Jogos Vorazes sempre foi uma das séries distópicas que mais me chamou atenção, ainda mais por conseguir ser relevante e usada como suporte em assuntos atuais apesar de seus livros terem sido lançados a mais de 10 anos atrás. A trilogia faz questão de demonstrar temas extremamente importantes, quais são os motivos pelo qual eu a valorizo tanto, especialmente em um mundo cheio de guerras e pessoas importantes tomando decisões grotescas: A busca pela democracia, justiça e paz, mesmo que para atingi-las não as usem.
Confesso que fui ver o filme com baixas, se não praticamente nenhuma, expectativa de ser bom, porém o show que Coriolanus Snow e Lucy Gray Baird nos coloquem desde a primeira vez juntos é espetacular, pelo menos olhando pelos olhos de uma futura publicitária que reconhece muitas das estratégias impostas por snow, mesmo que feitas usando o mal como combustível.
Afinal, como não poderia ele? Ele sabia que, mesmo que quisesse ajudar a todos, ele não conseguiria. Mesmo que o seu coração limpo tentasse prevalecer, ainda que parte de si continuasse lutando para o lado certo, a maçã ainda não cai tão longe de árvore, então logo corio virou como seu pai “com apenas ódio atrás de seus olhos, como diz nossa querida tigris (Hunter Schafer, eu te amo).
E com o que vemos no último filme de Jogos Vorazes, podemos ter certeza que os primos Snow já não são mais tão próximos como antes, devido ela estar em exílio. Será que, na última cena do filme, quando fala que seu amado primo mais novo e melhor amigo está igual a seu pai, é a primeira vez que Tigris percebe que algo está por vir?
Coriolanus cita no final do filme que matou três pessoas, sendo uma delas “seu eu do passado”, porém para mim essa morte foi a de Sejanus, já que apesar de não ter o matado com suas próprias mãos foi ele quem o entregou a Capital, o que tecnicamente pode ser a mesma coisa. A morte de seu melhor amigo rebelde e impulsivo, porém com o coração no lugar certo, pode ter desenterrado algo dentro dele, na verdade, pode ter levado o resto desesperança que havia para ele mesmo.
Antes que continue falando sobre teorias do filme e opiniões próprias, gostaria de abordar o que falei antes, sobre ver o filmes pelos os olhos de uma futura publicitária. Não entrei no curso de Publicidade e Propaganda sem nenhuma noção de como funciona o mercado do entretenimento, ainda mais por sempre acompanhar ele e querer trabalhar nele, e PR stunts (ou manobras publicitárias) são o que mais prevalecem nesse mundo. Estratégias e truques para fazer com que a marca ou pessoa com qual trabalha chegue no topo, no caso dos Jogos seria humanizar os tributos para que as pessoas criassem uma conexão “humana” com eles, para sentirem empatia e se verem nos participantes. Muito parecido com que acontece nos reality shows que muitos de nós consumimos frequentemente, só que não é a mesma coisa, certo?
Conseguimos sentir a inspiração de 1984 exalando dos jogos, já que eles foram criados para o puro entretenimento da Capital (apesar deles falarem que não é com o discurso de sempre, “é um ensinamento pela guerra que sofremos e bla bla bla) e que filma pessoas reais sendo mortas uns pelos outros até o vencedor aparecer, ou melhor, sobreviver. E o que Corio faz consegue piorar a situação, ele torna o que era para ser uma “lição” em um show. Logo que a partir que alguém se sente representado e conectado com alguém uma vez, ela vai querer sentir isso de novo, então elas irão doar e doar para todo ano 23 pessoas, crianças, serem mortas em televisão aberta, como se elas não fossem humanas, mas sim apenas uma mera história. Muitas pessoas não conseguem ver a realidade das coisas a não ser que elas batam em sua porta.
Bom, falando agora sobre algumas coisas mais pontuais do filme: O desenvolvimento do personagem de Snow é algo surpreendente. Ver ele sucumbindo aos poucos a ações mal intencionadas, usando de desculpa a ganância disfarçada de “amor” e “preocupação” com sua passarinha cantante e sua família. Arrisco a falar que ele a matou, já que estava em um estado frágil após ter permitido e facilitado a morte de seu melhor amigo e amordidade uma cobra venenosa (Sim, era venenosa, eu pesquisei pelas cores da pele. Sou curiosa, ok?) pode ter criado alucinações, já que apesar de escutarmos um grunhido após ele ter atirado em sua direção não vemos ela de novo; Isso pode ser um efeito direto do veneno e da visão que ele quer nos mostrar, porém logo perseguido pela culpa de sua próprias ações quando mockingjays começam a cantar a canção de Lucy. Mas no final isso não importa, porque ele não pode mais conter ela para ele mesmo, nem mentalmente nem fisicamente, ela, sua história e sua memória estão livres. Afinal, ela não seria a primeira garota do distrito 12 que ele não conseguiria conter.
Pela história se passar mais de 60 anos antes de Katniss jogar os jogos obviamente iriam haver conexões entre os personagens, porém A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes leva isso a um nível completamente superior. Começando pela música tema do filme escrita pela cantora Olivia Rodrigo, onde ela literalmente conta a vida de Lucy e como ela sempre vai estar alí, ele não pode pegar ela, ela está nas árvores e nas brisas, do mesmo jeito que muito tempo depois o fogo iria se espalhar contra a Capital. A tantos paralelos entre Everdeen e Baird: o mockingjay, a saudação ao público, a música “The Hanging Tree”; E pode ter certeza, Snow as conectou no momento que viu Katniss se voluntariar por Prim. Porém não se engane, as duas eram diferentes em muitos quesitos, mas principalmente a Lucy era uma artista que precisava ser uma guerreira, e Kat era uma guerreira que precisava aprender a se apresentar.
Apesar de ter lido apenas a trilogia original a anos atrás, esse filme só me fez ter mais vontade de ler o livro no qual foi inspirado, e acredito que isso deve ter sido um sentimento universal de todos que o viram. A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes prova que não são todas as séries de livros e filmes que se tornam ruins após suas prequels, aliás, com a escrita de Suzanne Collins e a profissionalidade da Lionsgate em produzir as obras, acredito que todas as pessoas (sejam elas fãs ou não fãs) estariam exorbitantes em assistir, ou pelo menos ler, a história de outros personagens e outros jogos.