Foi em 1918, com Cupid Angling, que a tecnologia possibilitou o uso de cores no cinema. Desde então, tal técnica fora utilizada em inúmeros filmes como expansão das possibilidades de cenografia, fotografia e narrativa. Filmes como Gone With the Wind e The Wizard of Oz foram pioneiros da novidade, enquanto os clássicos Psicose, Manhattan e Acossado continuaram por optar em utilizar o preto e branco mesmo depois do advento.

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Naturalmente, o uso ou não-uso da cor tornaram-se uma das primeiras escolhas que os diretores normalmente fazem na concepção de seus respectivos filmes, alguns com poucos elementos (Schindler’s List e Rumble Fish) ou momentos (Kill Bill) que alternam entre o uso do colorido e do monocromático. Devido ao retorno financeiro esperado pelos estúdios, muitos filmes inicialmente imaginados como monocromáticos foram alterados por serem considerados “não-rentáveis”.

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Logan, o último sucesso do Universo Mutante da Fox, rompeu os paradigmas do gênero de super heróis ao apresentar uma obra artística, adulta e dolorosa. Mesmo depois de seu lançamento, o filme continua com a quebra de padrões com sua versão em P&B, se desvirtuando dos filmes espalhafatosos com os quais estamos acostumados (para não falar cansados). [Não é spoiler] O maior “inimigo” de Logan pode ser metaforizado como o tempo. Inevitável e corrosivo, o objeto de discussão de várias vertentes filosóficas é o responsável pela degradação dos personagens, dos sentimentos construídos até então e pode ser considerado como o principal contra-peso da longa vida do Wolverine. Além disso, também é utilizado como conectivo entre os diversos diálogos que o filme faz com diferentes épocas. Sua versão “Noir” o aproxima de suas referências cinematográficas mais claras, ambientadas no velho-oeste (gênero com ascensão e queda semelhante aos super-heróis).

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A tendência de relançamentos em preto-e-branco pode ser posta como semelhante aos conhecidos “Director’s Cut”, uma vez que filmes como The Mist e os coreanos Lady Vengeance (com a versão Fade to Black and White, na qual começa colorido, torna-se pastel e encerra colorido) e Mother se configuram como perfeitos exemplos de filmes nos quais a narrativa é essencialmente alterada com a ausência do policromático. De modo a evidenciar o brilhantismo das composições de Steven Spielberg, o produtor e diretor Steven Soderbergh disponibilizou em seu site um corte monocromático do filme Raiders of the Lost Ark.

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Outro longa com uma versão alternativa em P&B é o já consagrado Mad Max: Fury Road. O blockbuster frenético e artístico de George Miller impactou com suas cores contrastantes e vivas no cenário desértico pós-apocalíptico, porém a mesma ambientação é palco de uma imensidão ímpar quando vistas no monocromático. Devido à questão comercial, o diretor não conseguiu lançar a versão que o próprio considera melhor.

É interessante notar como os filmes atuais com cunho artístico podem ganhar novos significados a partir da falta de cores e como isso não se limita ao gênero. Um filme dramático de super-herói e o blockbuster pós-apocalíptico de George Miller provam como o monocromático não se limita aos “art movies”.

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Crítico mirim, desenhista amador, escritor júnior e futuro diretor (se tudo der certo).