A 12ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty, mais importante festival de literatura do Brasil e um dos maiores do mundo, começa nessa quarta-feira, 30.

Autores de renome, tanto do cenário nacional quanto do internacional, estarão presentes em palestras, mesas e debates.

São destaques dessa edição Vladímir Sorókin, primeiro russo a participar do evento e ferrenho ativista contrário ao governo Putin; Glenn Greenwald, jornalista que publicou os polêmicos documentos de Edward Snowden; Paulo Mendes da Rocha, arquiteto ganhador do prêmio Pritzker, maior reconhecimento na área de Arquitetura mundial; entre muitos outros.

A cada edição, o evento seleciona um autor para ser homenageado, sendo o escolhido deste ano o jornalista, escritor e cartunista Millôr Fernandes. Já foram homenageados nomes como  Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Vinicius Moraes e outros gigantes da literatura (talvez cultura seja o termo mais correto) brasileira.

A história da FLIP é um tanto diferente do que se esperaria, sendo a festa um desdobramento de um projeto de urbanização e valorização econômica e cultural da cidade de Paraty, levado a cabo pela Casa Azul, uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), dirigida pelo arquiteto e urbanista Mauro Munhoz.

A ideia de uma festa surgiu quando se constatou que cidades litorâneas cuja renda provém quase que exclusivamente do veraneio (turismo em dezembro e janeiro) possuíam sérios problemas de segurança, saúde e educação pública.

O evento é uma forma de atrair o turismo cultural, aquele que leva em conta o já abundante capital intelectual e cultural da cidade,  em um período de pouca movimentação na cidade. Dessa forma, a renda proveniente do turismo se manteria mais ou menos constante ao longo de todo o ano.

O resultado foi melhor do que o esperado: hoje a festa atrai mais dinheiro para a cidade do que o ano novo e o carnaval juntos. Nas palavras de Liz Calder, inglesa e uma das fundadoras do evento, a festa “cresceu mais do que nossas expectativas mais ousadas”.

A festa conta com atrações voltadas ao público infantil (Flipinha) e também adolescente (Flipzona), bem como oficinas e mostras de cinema e shows de diversos artistas.

Há também o trabalho “nos bastidores” do evento, que leva em conta a comunidade e as particularidades da cidade de Paraty. A aproximação com a periferia da cidade (a “cidade real” como se refere à ela Mauro Munhoz), através da instalação e manutenção de bibliotecas, projetos culturais junto às escolas públicas e o emprego de mão de obra local em todas as oportunidades.

A festa é um sucesso e a Casa Azul é procurada por diversas cidades para replicar o modelo do evento a fim de atrair turistas para as mais diversas cidades do Brasil.

É curioso que, quando são informadas de que a festa é resultado de um processo de mais de 10 anos de estratégias e ações sociais,  a grande maioria delas  desiste da ideia.

Mudar a forma como as coisas são feitas é um processo difícil e ainda falta muita vontade política por parte do poder público para que isso aconteça. Por sorte temos a FLIP e Paraty como um excelente exemplo de que isso funciona.

Minha barba. Minha vida.