Uma rede social tem o potencial de alterar nosso comportamento fora do mundo digital. Isso fica bem claro no ritualístico momento da selfie, da foto de comida para o Instagram, ou mesmo nas poses infinitas em festas (e praticamente qualquer lugar). Temos o momento do check-in e consequente descoberta de quem mais passou por ali.

Exemplos não faltam. Com a vitrine que um perfil pode se tornar, adaptamos o que fazemos para mostrarmos cada vez mais o que queremos que os outros vejam. Na internet isso é bem fácil, poucos têm acesso a mais informações sobre cada um de nós além daquelas que nós mesmos apresentamos voluntariamente.

O desejo de ser visto, julgado e aceito dentro de um grupo não nasceu hoje. Aliás, talvez isso que tenha estruturado nossa sociedade tal qual ela é, cada tem uma função, os outros sabem qual ela é e assim tem-se uma sociedade multidisciplinar e interdependente, com cada função reconhecida e exercida por um indivíduo ou grupo de indivíduos. As redes sociais só tornam essa visibilidade universal, global e, no que antes da internet poderia ser considerado contraditório, controlado quase totalmente pelo próprio indivíduo.

Mas o papel das redes sociais no imaginário dos jovens está se expandindo, abarcando assim novas áreas, como o desejo e o ideal de mundo. Sim, ideal de mundo.

Um produto que acabou de concluir seu processo de crowdfunding no IndieGoGo prova essa teoria. São os óculos Tens, que procuram filtrar o mundo visto de forma à se assemelhar ao que se vê no Instagram.

A incrível comparação do que se vê normalmente, uma foto sem graça, toda cinza, sem quase nenhum contraste e pouca saturação (por isso o maldito cinza) é tudo que aparece para fazer jus ao “real”. Aí a versão “Instagram” é apresentada. Claro, tem cores que chamam mais a atenção, um contraste chamativo, mas calma! Aquele mar azul maravilhoso de repente ficou verde? O cactus, notóriamente verde, fica amarelo?

Screen shot 2014-05-15 at 5.43.00 PM
Screen shot 2014-05-15 at 5.43.10 PM

É assim que queremos enxergar o mundo? É assim que o mundo precisa ser para ficar bonito, o mar parecer poluído e o cactus doente? Deixamos de enxergar a realidade para pensar somente no aspecto estético das coisas, a ponto de achar que poluição ou doença são coisas “bonitinhas”, assim que todo o seu valor real desaparece?

Como já alertou Van Gogh há mais de um século, devemos parar um pouco mais para enxergar o mundo, enxergar de verdade e, assim, ser capaz de entendê-lo.

Só para comparar, aqui abaixo temos 3 imagens: as duas apresentadas pela Tens sobre o mundo real e o “mundo Tens” e uma outra, de um local bastante semelhante, sem absolutamente nenhum filtro.

Screen shot 2014-05-15 at 5.42.38 PM Screen shot 2014-05-15 at 5.42.51 PM
420546_2258088511468_538723992_n

E aí, precisa mesmo de filtro?

Minha barba. Minha vida.