Sinapse por Lucas Youssef, 07/07/2010

Muito se fala sobre a censura ao redor do mundo. Que é um mal, não há dúvidas. E quem tem alguma consciência sabe que é um mal do qual não nos livramos; está acontecendo agora. E é por aqui mesmo, no Mundo Livre. Apesar de ser sempre a China, país que mais censura conteúdos da internet, a ser duramente – não sem razão – criticada por coibir diversas fontes de informações, o problema aparece por aqui também. Apesar da censura imposta por Estados ser assunto que pede discussão (e ação), esse post trata sobre a censura que as próprias fontes de informações nos colocam, sem que algo seja dito ou feito.

O YouTube censura vídeos o tempo todo, e raramente recebe críticas. Essa semana foi a vez do vídeo que mostrava a discussão entre duas mulheres, Juliana e Vivian, por causa do caso extraconjugal que a primeira mantinha com o marido da outra. O vídeo se espalhou de maneira viral e em poucas horas teve um boom de visualizações, alimentandas pelos comentários no Twitter, que teve os nomes das duas entre os Trending Topics por alguns momentos. O YouTube tirou o vídeo do ar. Apesar de haver alguma violência presente no vídeo, não havia motivo para que fosse retirado do ar, o máximo que deveria ter acontecido seria alertar os usuários sobre o conteúdo, como acontece em tantos outros casos. Se fosse só isso, estaria tudo bem. Mas, não.

O histórico de censuras desnecessárias vem desde o inicío do site. Ocorreu com um vídeo da cantora M.I.A. por mostrar violência gráfica, há alguns meses. Ocorreu com um vídeo da cantora Björk por fazer alusão a sexo e mostrar a artista semi nua, há alguns anos. Os dois vídeos podem ser considerados peças de arte em tempos em que os musicais mais assistidos são sobre rappers que mostram como tratar mulheres de maneira desrespeitosa. Quantos vídeos muito piores do que esses, que o YouTube considera impróprios, estão espalhados por ele e não são censurados, nem recebem alerta de conteúdo possivelmente ofensivo? Os inúmeros vídeos de maus tratos a animais são exemplos de conteúdo que deveria ser banido – não por censura mas por uma questão ética -, mas não sofre qualquer restrição.

Mais intenso do que qualquer um dos que foram citados aqui, são os vídeos com pessoas morrendo de forma chocante. É o caso do vídeo da garota Neda, iraniana que depois de ser atingida por um tiro agonizou e morreu em frente a uma câmera durante protestos no Irã em 2009. Neda morreu em frente às milhões de pessoas que assistiram. O Irã é um dos países que mais censura conteúdo online, perdendo apenas para a China, e sempre edita o que o YouTube exibe. Com certeza trata-se de um dos vídeos mais chocantes presentes no site. E por quê o YouTube não retirou? Porque preza a liberdade de expressão? O site realmente sabe o que faz com seu conteúdo, e realmente não tem consistência na hora determinar o que é ou não ofensivo, o que é ou não de péssimo gosto e passível de ser banido.

Ainda há muito que ser dito sobre esse assunto. A discussão precisa se manter viva para que a censura não se torne tão corriqueira a ponto de passar despercebida. No YouTube, em todos os aspectos do cotidiano. Melhor falarmos enquanto temos espaço.

Twitter: @yousseflucas @NewronioESPM