Sinapse por Flá Nogueira, 2 de junho de 2009


xeque-mate-newronio1Ontem assisti a um vídeo de um cara chamado Ken Robinson, um expert em criatividade, no qual ele diz que todas as crianças são dotadas de capacidades extraordinárias, como a de inovação. Ele diz que todas as crianças nascem artistas e vão perdendo essa habilidade conforme vão crescendo e sendo educadas. Segundo ele, somos criados para perder essa essência.


Se pararmos para pensar na forma com que a escola age sobre as crianças, podemos perceber que muitas vezes, estamos indo para o caminho oposto ao da formação de seres criativos. Podemos notar uma hierarquia dentro do sistema de educação que se repete na maioria das escolas de todo o mundo: As ciência exatas estão no topo, seguidas das ciências humanas e por fim das artes.

Essa hierarquia, no entanto, vem desde a revolução industrial na qual as matérias ligadas ao trabalho eram consideradas as mais importantes. Ou seja, tudo relacionado à música e arte, por exemplo, era considerado segundo plano, já que ninguém nunca iria conseguir um trabalho fazendo isso.

Nesse sentido, eu concordo com Ken quando ele diz que “dança” deveria  ser considerada tão importante em uma grade horária quanto “literatura”. Ainda, acredito que a forma com que as escolas lidam com os alunos está longe de ser a que deveria. Alunos fazem lição porque “vale nota”, e não porque se interessam; são submetidos à leis e regras que não podem em nenhuma ocasião serem repensadas; São incentivados a competir e a acreditar cegamente no que está escrito nos livros.

O filme tempos modernos do Charlie Chaplin, ilustra perfeitamente essa situação. Conta a história de um rapaz que se vê obrigado a entrar em um sistema que não exige nada além de movimentos repetitivos e disciplina. Se relacionarmos esse filme de Chaplin à nossa realidade, podemos ver que muita coisa ainda não mudou. Muitas escolas ainda estão decepando a possibilidade de intuição, criatividade e expressão dos alunos tentando enquadrá-los em velhos padrões de ensinamento.

Outro ponto importante é a questão das escolas estarem formando alunos para entrarem nos vestibulares. E de fato, durante todo o meu colegial soube que muito do que estava aprendendo usaria apenas para entrar na universidade. Eu me questionava, mas tinha aquela velha sensação de que as coisas nunca mudariam mesmo, e que na minha escola eu nunca seria reconhecida, pois sempre fui uma aluna bem mediana.

O propósito dessas escolas, portanto, é o de produzir professores de universidade, o que deveria ser na verdade, um estilo de vida, uma escolha. Como conseqüência dessa forma de pensar, pessoas talentosas, brilhantes e criativas acabam pensando justamente que são o contrário, já que não apresentam bons resultados na escola e, portanto não se encaixam em nenhum perfil dos que são valorizados.

Algumas pesquisas recentes provam que profissionais bem sucedidos foram em maioria mal avaliados na escola. E para os interessados, existe um livro chamado Fomos Maus Alunos” de Rubem Alves e Gilberto Dimenstein, que é considerado uma boa reflexão sobre esse tema. Vale destacar também, a aparição de escolas construtivistas, ou seja, escolas com forma de trabalhar diferente das tradicionais baseadas nas concepções desenvolvidas principlamente por Piaget. Nessas escolas, as crianças não absorvem o conteúdo somente de forma passiva, mas são estimuladas a perguntar, a pensar sobre o que aprende, a criar hipóteses.

Nesse sentido, vale a pena lembrar das diferentes formas de inteligência: sabemos que cada um de nós a expressamos de uma maneira diferente do outro. Alguns tem uma inteligência lógico-matemática, outros lingüística. Alguns estão mais ligados à inteligência interpessoal, outros à musical. Nesse sentido, não há certo nem errado. Não há como criar formatos e exigir que todos pensem da mesma forma.

Voltando então ao filme tempos modernos, fica evidente a mensagem de Chaplin: O personagem principal só obtém sucesso quando consegue finalmente usar da sua criatividade. No final do filme, Chaplin tem de cantar para o público e para tanto usa uma “cola”com a letra da música que até então não havia decorado. No entanto, ele perde essa cola e se vê obrigado a inventar…. improvisar…. e é dessa forma que ele acaba encantando o público.

 


Inventar, improvisar. Para mim essas são as palavras chave desse texto. Acredito que na Era em que vivemos, não dá mais para viver sem o improviso, sem a ADEQUAÇÃO a diferentes situações e pessoas. E se pensarmos em um futuro próximo, ou um futuro mais distante, é legal tentar fazer o exercício de imaginar qual será a tendência que as escolas, por exemplo, seguirão.  Segundo Ken “O certo seria repensar nos princípios fundamentais de educação das nossas crianças e prepará-las para enfrentar um futuro que talvez muitos de nós não vamos chegaremos a ver. Temos de usar a criatividade de maneira inteligente e saber reconhecer que ela é um dom que nós ganhamos, capaz de inverter esses cenários dos quais falamos.”

Para quem tiver interesse, segue o vídeo original no qual esse post foi inspirado: