A linguagem digital veio para mudar nosso mundo. Em poucas décadas, quase todo tipo de informação se tornou passível de redução, verdadeira intangibilização se pensarmos no plano físico. Qualquer tipo de informação pode ser transformada em uma sequência de 0 e 1, o chamado bit, que pode variar de poucas centenas (alguns bytes, conjuntos de 8-bits) até muitos milhões, como por exemplo o gigabyte.

Através dessa padronização de lingugagem e ferramenta, tudo que foi e é produzido pode ser, teoricamente, lido e interpretado por qualquer máquina em qualquer  lugar a qualquer momento. Um mundo paralelo ao real parece ter sido criado, verdadeiro cyberespaço, tão caro à ficção científica (William Gibson que o diga!).

Mas, diferente dos mundos imersivos, em que todos os sentidos dos navegadores eram inundados por dados, o cyberespaço real nunca passou de amontoados de números e códigos, e todos esses suportados ainda e exatamente por 0s e 1s.

O mundo digital proporcionou a expansão de horizontes nunca antes vista, sejam eles físicos, comportamentais, governamentais, informacionais. Tudo passou a ser digital. Mas será que isso é benéfico? Será que todos concordam com isso?

Diversos artistas e designers gráficos do Reino Unido protestam abertamente contra a padronização e super-perfeição nascidas com o Photoshop e outros programas de edição de imagem e pintura digital. Artistas como Sam Arthur, Ben The Illustrator, Kate Moross, Anthony Burrill e muitos outros.

Esses artistas são retratados no documentário Made You Look, dos diretores Anthony Peters e Paul O’Connor. A data de lançamento está prevista para o começo de 2015, mas o trailer já está na internet:

O vídeo remete à filosofia do DIY, Do It Yourself, forma de resistência ao sistema consumista. A ideia de se criar os próprios objetos e acessórios não é uma prática nova, claro, mas sua valorização como ato político remete à cultura punk. Ser autossuficiente, nesse caso, implica em depender menos das escolhas e produtos “impostos” pelo sistema e poder gozar de maior autonomia nas decisões e atitudes.

Em se tratando de arte e design, a liberdade proporcionada pela retomada do mundo físico parece um fator fundamental.

Aqui no Brasil, a cultura do DIY ainda está em fase de crescimento. A própria história do país, infelizmente, colocou nos trabalhos manuais certo estigma de inferioridade. Mas algumas iniciativas merecem atenção.

É o caso da Editora Cozinha Experimental. Sediada no Rio de Janeiro, a editora produz de maneira artesanal todos os seus títulos. Contando com impressão digital apenas dos miolos de seus livros, todo o restante do processo, da produção da capa à encadernação, é feita à mão.

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Por meio da produção artesanal, DIY se assim de desejar chamar, a editora acaba por criar certa liberdade dentro do super restrito e exigente mercado editorial. Liberdade tal que aproxima tanto os autores do resultado final de sua obra quanto os leitores, tanto da obra em si quanto desses autores.

Minha barba. Minha vida.