Sinapse por Pedro Hutsch Balboni, 12/08/09 às 18h05

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Tem bastante coisa grande acontecendo no Brasil (na verdade, sempre tem, mas estas chamaram minha atenção), e entre elas destaco duas: a primeira, a escandalosa “gripe suína”, sobre a qual já ouvi muitos exageros e algumas verdades, e a segunda, a nova lei do cigarro, mais polêmica ainda que a recente e já esquecida lei seca. Para juntar os dois assuntos, trago o autor do livro Tipping Point (O Ponto da Virada), Malcolm Gladwell.

O que o autor diz é que devemos entender alguns “fenômenos sociais” (exemplos do autor: aumento e diminuição repentinos no índice de criminalidade de Nova Iorque, um livro virar best seller, etc) devem ser entendidos como se fossem uma epidemia. Colocando essa afirmação dentro de um dos exemplos do livro: num momento houve um aumento muito grande na taxa de criminalidade da cidade de Nova Iorque, e depois uma queda muito rápida. Nenhuma das explicações dadas para o caso satisfazem: o tráfico de craque havia diminuído, havia mais policiamento, e a economia do país havia melhorado. Porque houve aquela mudança naquela hora? Os motivos apresentados indicam que deveria haver uma mudança gradual, e  não repentina. Por isso, esse tipo de fenômeno deve ser entendido como uma epidemia. (Ah, já que estamos falando tanto de epidemias, tem um jogo aqui que ilustra bem uma epidemia se espalhando).

 

 

Um dado interessante que ele traz no livro é que se uma folha de papel sulfite for dobrada ao meio 50 vezes, ela ficará com expessura suficiente para chegar ao sol, e aceitar este tipo de informação é um tanto absurdo para o cérebro humano, mas o que não nos damos conta é que trata-se de uma projeção geométrica, 249! E é nessa velocidade que as epidemias se espalham.

Existem três fatores, sempre segundo o já citado livro, que “criam” uma epidemia, que dão condições para que ela exista. São eles: os agentes responsáveis por causá-la e espalhá-la; o fator de fixação, isso é, algo que faça com que a epidemia fique “impregnada”; e um meio favorável para que ela se espalhe. O caso de Nova Iorque, deixarei para quem quiser ler o livro, falarei aqui de um outro caso debatido pelo autor.

 

 

 

E que outro caso seria esse? Justamente o do tabagismo. O autor diz que as formas de combate ao tabagismo sempre são focadas nos agentes que disseminam o cigarro, e que isso é um tremendo erro. No começo do século passado, as indústrias do tabaco ainda afirmavam que fumar não fazia nenhum mal, e as pessoas ainda acreditavam nisso. Depois, foi provado o enorme mal que o cigarro faz, mas ele ainda trazia um certo status para o fumante, sempre relacionado a atores de Hollywood e etc. Aí a lei veio forte, tentando desvincular essa imagem e tentando educar a sociedade, mostrando que cigarro é uma droga, e que não faz só mal, mas também mata. (Veja aqui quanto o cigarro já fumou de sua vida). E o que aconteceu depois, e que conseguimos observar em nosso dia-a-dia? Fumar um cigarro tornou-se símbolo de uma trangressão social, um sinal de independência e personalidade, “eu sei que faz mal, fumo porque gosto”. Perceberam o drama?

Focar as campanhas anti-fumo nos agentes que disseminam a prática é sempre muito complicado, pois de uma maneira ou de outra, existem boas razões para se querer começar a fumar em alguma determinada época da vida. O que acontece é que o cigarro não vicia do dia para a noite, como a heroína, mas a longo prazo, e isso passa de forma imperceptível para o fumante – quando ele se dá conta, já está muito difícil de largar o vício. O que Malcolm diz? Que o vício que o cigarro gera é o fator de fixação dessa epidemia, e que para combatê-la, deveríamos focar nele. Assim, ao invés de subir o preço, proibir as propagandas e tentar torná-lo (ainda mais) uma pária social, ele sugere que, através da lei, os fabricantes de tabaco diminuíssem a porcentagem de nicotina por cigarro (não lembro os números agora de cabeça) para uma taxa em que ela não seja mais altamente viciante, e pronto, as pessoas poderiam querer começar a fumar por algum motivo algum dia de suas vidas, mas também teriam muito mais facilidade para largar o cigarro. Interessante, não?

 

Joãos e Joanas Anti-Fumo Newronio ESPM

 

Agora chegou essa nova lei. Se entendi direito, ela combate o meio, tornando-o menos propício ao fumo, e afetando em consequência os agentes. Para falar a verdade, nunca imaginei que veria em minha vida uma lei assim, tão forte. Na posição de não-fumante, foi a melhor coisa que fizeram até agora, pensando em quem optou por não fumar ao invés do contrário, com fumantes impondo o cigarro aos outros. Tem um debate legal sobre o tema aqui. Saindo desse universo esfumaçado, fica a pergunta: como você vai fazer para transformar a sua marca em uma epidemia?

Twitter @phbalboni @newronioespm