Sinapse por Ramiro Gonçalez, 17/12/2009 às 21h15

Está passando quase despercebida uma briga de “cachorro grande” no setor de mídia brasileiro. Trata-se de uma revolução silenciosa: A disseminação em larga escala da Banda Larga e da IPTV.

O governo acaba de barrar modelo estatal na banda larga e a proposta é adotar um sistema misto: Telebrás para gerenciar uma rede pública de fibra ótica e as teles privadas levando acesso ao usuário final.
Esta competição tem por finalidade baratear o uso da banda larga. Isso aumentaria muito a penetração de mídia digital, principalmente nas classes b2,c1 e c2.

E as teles querem mais. Na manchete de 8 de dezembro  do “Brasil Econômico”, “Operadoras de telefonia propõem redução de impostos para garantir cobertura maior do serviço de acesso veloz à web”

Junta-se a isso  os dados recentes  da pesquisa de audiência do IBOPE:

Programas tradicionais e líderes perdem audiência para canais menores ou pagos, DVD ou game…

Além disso sabemos que  muitos televisores “ficaram desligados” ou  com “afastamento”(televisão ligada e ninguém assistindo, apenas afastando a solidão dos telespectadores…)
O programa “Jornal Nacional” ícone e ímã de telespectadores (por sua lealdade e aderência) caiu de 39,8 para 31 pontos nos últimos cinco anos.
O “Jornal da Record” teria perdido 20% em seis meses. Isso ocorreu também no SBT que pode fechar o ano com dois pontos a menos que a Record.
Em suma todas as redes abertas perderam telespectadores em relação a 2008.

Esse é o movimento silencioso que coloca em cheque a mídia tradicional.
Acrescente a isso o fato que em 2012 a TV digital estará nos 100 maiores municípios do Brasil….

Parece um cenário desolador para as mídias tradicionais.
Mas apenas parece.

A história mostra que uma mídia nova não destrói a anterior. Apenas a reposiciona.

O que não está claro é se a mudança será incremental ou um salto.
A resposta está na velocidade de migração das verbas publicitárias para o PDV e para mídia digital. Caso ocorra uma migração superior a 20% até 2012, muitas empresas de comunicação não suportarão os custos fixos de suas áreas de geração de conteúdo (principalmente entretenimento e informação).

As operações de mídia com grande custo fixo começarão a ficar inviáveis.
O vetor jovem -nativos da internet- (com idade menor que 25 anos) prefere mídias onde eles escolhem “quando”, “onde” e “o que” ver.

Imaginem o impacto nas TVs tradicionais quando os usuários puderem assistir à TV em seu monitor de computador, rádio ou celular  e escolher o horário e a programação…
Como ficarão as agências e veículos com seus planos de mídia cartesianos?

Não se trata de fazer juízo de valor se isto é bom ou ruim, trata-se de constatar que é uma mudança inexorável.
Como a mídia tradicional irá enfrentar este novo modelo de negócios? Participações cruzadas?

Por outro lado sabemos que o jornalismo investigativo precisa ser bem remunerado para ser independente e os editoriais ainda não encontraram mídias melhores que os jornais.

Entretanto estes ventos irão mudar  a mídia da forma que a conhecemos hoje, pois finalmente o anunciante poderá mensurar o uso de sua verba publicitária.

Este é o debate que irá imperar em 2010 . Ainda silencioso.

Colaborou Prof. Ramiro Gonçalez

Mestre em Ciências da Comunicação – USP

Engenheiro Produção POLI-USP

Especialista em Inteligência de Mercado (UNILEVER, WAL MART e HSBC)

Professor da FIA USP

Twitter @ramirogoncalez @newronioespm