“A loucura de uma pessoa pode ser a realidade de outra”.
(Tim Burton)

Olhar por uma janela. Janela que é, ao mesmo tempo, fuga do real e mergulho no imaginário. Janela: tela do cinema.

Era uma vez um menino solitário e sem amigos. Cresceu tendo por companhia monstros, cachorros e filmes bizarros. Transformou-se em um dos diretores de cinema mais famosos e cultuados do mundo. Estamos falando de Tim Burton que, ao se lembrar da sua infância, confidencia: “Quando você não tem muitos amigos e nenhuma vida social… você se distancia do resto da sociedade; é como se estivesse olhando por uma janela… mas existem muitos filmes bizarros por aí, então você consegue aguentar bastante tempo sem amigos”.

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Visitar a exposição “O Mundo de Tim Burton” em cartaz no Museu da Imagem e do Som é, não só um passeio pela sua extensa e cativante filmografia, mas, sobretudo, adentrar no processo criativo deste instigante Produtor de Linguagem.

Assim, a referida exposição abrange toda a sua produção criativa que transcende mídias e formatos: rascunhos, blocos de anotações, desenhos, pinturas, fotos, filmes e instalações com esculturas.

Logo na primeira sala somos “jogados” no mundo intertextual e dialógico de Tim Burton, apontando para o expressionismo alemão, o realismo mágico, o surrealismo, os filmes de terror, etc. Pôsteres, fotos e uma reprodução do quadro “A Noite Estrelada” de Van Gogh, ilustram o cenário das inspirações do diretor.

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Tim Burton também dialoga com a Arte Contemporânea. Como não lembrar das obras da artista Patrícia Piccinini recém apresentadas na Exposição “ComCiência” no Centro Cultural Banco do Brasil? Como o cineasta, a artista australiana nos aproxima de criaturas imaginárias e fantásticas, que num primeiro momento, pode nos causar estranhamento e repulsa para, logo em seguida, aflorar um sentimento de identidade e empatia com estes seres aparentemente esquisitos e surreais, nos convidando para uma viagem simbólica de forte apelo emotivo.

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Tim Burton nos ensina: “Sempre adorei os contos de fadas como “Chapeuzinho Vermelho” e “João e Maria”, que contam ideias incríveis, mas não possuem nenhuma ligação psicológica comigo. Certo dia, tive uma conversa que fez muito sentido. Disseram-me: “imagine como Chapeuzinho Vermelho foi recebida na época em que foi escrita, provavelmente fazia todo o sentido”. O que amo nos contos de fadas é que algo bem simples e emocional é mostrado em uma escala simbólica bem maior. É a inabilidade de se comunicar, de tocar, estar em desacordo consigo mesmo.”

Em tempos de intolerância com o diferente, a arte de Tim Burton ganha um sentido alegórico.

Quem quiser viajar pelo mundo mágico e dialógico de Tim Burton, está convidado para o terceiro encontro CineCom-ESPM, a ser realizado no dia 29 de março às 14 horas, no Auditório Victor Civita.

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João Carlos Gonçalves (Joca)

Doutor em Linguagem e Educação pela USP; Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Professor de Fundamentos da Comunicação e Semiótica Aplicada na ESPM.

Os colunistas do Newronio são professores, alunos, profissionais do mercado ou qualquer um que tenha algo interessante para contar.