Há pouco mais de 19 anos, em 1995, estreava nos cinemas “Antes do Amanhecer”, o início de uma das mais belas e sensíveis trilogias do cinema.

Sendo um diretor praticamente estreante na época, Richard Linklater havia dirigido apenas três filmes até então, entre eles, o clássico e adolescente “Jovens, Loucos e Rebeldes”, de 1989. Alguns anos depois, em 2003, o diretor também dirigiu “Escola de Rock” e hoje é responsável por uma das grandes expectativas de 2014, o filme “Boyhood”, gravado ao longo dos últimos 12 anos.

“Antes do Amanhecer” narra a história de Jesse (Ethan Hawke), um jovem estadunidense, e Celine (Julie Delpy), uma estudante francesa, que iniciam uma conversa ao se encontrar em um trem a caminho de Viena. Ao chegarem à Áustria, ele a convida para descer com ele e, com isso, acabam passando a noite passeando pela cidade. Conforme vão se conhecendo, uma paixão desperta entre os dois, mas na manhã seguinte Jesse tem de voltar aos E.U.A. e Celine tem de ir para Paris.

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Ethan Hawke e Julie Delpy em cena de “Antes do Amanhecer”.

Esse plot, de dois jovens que se conhecem e se apaixonam em uma noite, é inspirado na história que Linklater viveu com uma mulher chamada Amy, em 1989. Eles passaram a noite passeando pelas ruas da Filadélfia, mas o desfecho daquela história não foi tão feliz.

No festival de cinema de Tribeca, alguns anos depois, o diretor, emocionado, conta que Amy veio a falecer no dia das mães do ano em que se conheceram. A partir disso, Linklater decidiu dedicar o filme a ela.

Em 2004 chegou aos cinemas “Antes do pôr-do-sol”, a sequência do filme de 1995. Nele, Jesse e Celine se reencontram 9 anos depois, novamente por acaso. Jesse agora é um conhecido escritor que está em Paris divulgando seu novo livro, enquanto Celine trabalha para um organização protetora do meio-ambiente. Os dois passam algumas horas juntos antes do sol se pôr, conversando sobre o que aconteceu em suas vidas nesses últimos anos.

Tendo assistido a esse filme ou não, deixo aqui a cena em que Celine canta uma de suas canções para Jesse. Uma lembrança para quem já viu e um teaser para quem ainda não assistiu à trilogia.

Novamente com um intervalo de 9 anos, em 2013 a trilogia chegou ao seu desfecho com “Antes da Meia-Noite”. Nessa última parte, Jesse e Celine aparecem na Grécia, casados e com duas filhas, tentando lidar com algumas questões de seu relacionamento, com Jesse pensando sobre seu próximo livro e tentando lidar com seu filho Hank, do último casamento, e Celine considerando aceitar um emprego junto ao governo francês.

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Cena de “Antes da Meia-noite”.

Ao longo da trilogia, o que mais chama atenção é a simplicidade com que a narrativa é levada. Com o casal praticamente só passeando ao longo dos 3 filmes, os diálogos, junto da excelente atuação de Ethan Hawke e Julie Delpy, são o que carregam a série e que fazem com que nos identifiquemos com a história dos dois.

A “trilogia do Antes”, como é chamada popularmente, pode ser chamada sem medo de uma das mais incríveis do cinema por um único motivo: é um romance entre duas pessoas comuns e sobre o quanto a dita “poética do acaso” influencia os caminhos de cada um de nós.

Só para completar: “Boyhood”, seu mais recente filme, narra a história de 12 anos da vida do garoto Mason, começando aos seus 6 anos de idade e terminando aos 18. Hipóteses começam a circular de que Linklater filmaria, também, os próximos 12 anos, para sabermos o que acontece com Mason dos 18 aos 30.

Sobre isso, Linklater responde o seguinte: “Bem, agora ele vai estar em seus primeiros períodos da faculdade, então eu sei como vai ser a vida do Mason pelos próximos anos. Mas depois disso? Sabe, eu estava pensando, não seria sensacional se o Mason largasse a faculdade, entrasse em um trem e conhecesse uma garota na Europa…”

Seria Mason e Jesse a mesma personagem? Ambos texanos, de pais separados e talvez os dois sejam o próprio Linklater, afinal, a história de Jesse e Celine foi baseada na de Richard e Amy.

Para terminar e, talvez, confirmar essa hipótese, a resposta de Jesse no segundo filme, quando perguntado se seu livro é autobiográfico: “Olha, no fim das contas, não é tudo autobiográfico?”

 

Sai sempre de casa com uma palheta, uma câmera e um livro.