Tivemos na ESPM no dia 16/04 um debate sobre o projeto diminuição da maioridade penal. Sessenta alunos compareceram, em mais uma mostra de que os alunos estão interessados em estar melhor informados sobre a vida política de nossa sociedade. Um ponto de destaque: nenhum dos três advogados presentes eram a favor, sem que isto tivesse sido combinado ou pretendido. Eles consideram mesmo que o projeto seja simplesmente inconstitucional e que não deve sobreviver ao longo caminho que teria que passar para ser, de fato, aprovado. Eles consideram que o projeto é mais um jogo de cena para acenar para a parcela da população que, movida por medo e má informação, anseia pela medida.

Neste texto, no entanto, gostaria de focar outro aspecto do debate. O convidado externo foi o vereador Ari Friedenbach. Para quem não conhece ou não se lembra, ele passou por uma tragédia pessoal em 2003 que o levou, como advogado, a se engajar na luta contra a impunidade.

À época, sua filha de 16 anos disse que iria passar o fim de semana viajando com amigos mas, na verdade, saiu com o namorado para acampar numa área florestal. Lá, foram sequestrados por um grupo de jovens. O namorado foi morto no mesmo dia e a garota ficou em poder dos sequestradores por dias sendo seguidamente estuprada, até ser executada por um dos membros do grupo. Um menor de idade apelidado de Chambinha. Ele acabou sendo detido e, mesmo sendo menor de idade quando cometeu o crime hediondo, permanece detido, uma vez que tem um diagnóstico psiquiátrico que lhe atribui uma incapacidade de vida em sociedade.

Como disse o próprio Ari, emocionado: coisas assim acontecem o tempo todo, mas o caso ganhou expressão por se tratar de menina bonita de classe média.

Eu já era professor na ESPM e me lembro da comoção pela qual todos passamos e da transformação imediata de hábitos relativos à segurança tomados pelos pais e pelos próprios alunos.

Como psicólogo, fiquei muito impressionado com a serenidade de Ari ao compartilhar sua experiência, sem aparentar desejos de vingança ou rancor com relação a jovens infratores. Sua luta é de fato contra a impunidade, independente da idade daquele que perpetre um crime, desde que seja alguém considerado capaz de discernir o que faz. Ele parece capaz de colocar em perspectiva sua experiência e situa-la socialmente.

Se como psicólogo fiquei impressionado, como pai fiquei admirado. Imagino quanto trabalho interno de reflexão foi necessário para este grau de maturidade.

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Pedro de Santi

Psicanalista, doutor em psicologia clínica e mestre em filosofia. Professor e Líder da área de Comunicação e Artes da ESPM.

   

 

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