Quase sempre quando pensa-se no público de histórias em quadrinhos ou ficção científica, abusando do senso comum, tem-se a imagem de moleques adolescentes ou homens adultos com dificuldade no convívio social.

Grande engano!

Em uma recente divulgação de vendas do app ComiXology, uma das maiores plataformas de distribuição de quadrinhos da atualidade, 7 dos 10 títulos são focados também no público feminino, sendo que 4 delas (4 edições da nova Ms. Marvel) têm como público alvo muito bem definido meninas adolescentes.

A número 1 é a polêmica estreia de Silk, heroína cuja identidade alternativa, Cindy Moon, recebeu seus poderes da mesma aranha que mordeu Peter Parker no mesmo dia.

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O que aparentemente seria somente uma tentativa desesperada de adaptar uma história bem sucedida de um dos heróis mais populares da editora ao público feminino parece ter se tornado uma história genuinamente original e interessante.

A nova saga de Thor, cujo personagem principal agora é mulher (afinal, o poder do martelo Mjolnir é relegado a quem for merecedor, agora independente de gênero) tem apresentado vendas expressivamente maiores do que os últimos anos com o herói homem.

E mais: a própria personagem já apareceu fazendo piada com aqueles que achavam que “o feminismo estava acabando com os heróis”.

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A nova Ms. Marvel é um caso ainda mais interessante: é uma garota americana de família paquistanesa, muçulmana e que nunca esteve muito satisfeita com a própria imagem. Ao receber o poder de se transformar na poderosa (e loira e magra e alta, na identidade de Carol Denvers) Ms. Marvel, em pouco a menina percebe que não é legal usar seu poder para ser outra pessoa e decide assumir sua própria aparência para combater o mal e o bullying dos outros.

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Muita polêmica foi gerada em torno da religião da personagem, com alguns dizendo até que a história pregava a religião muçulmana. A resposta de Sana Amanat, editora da revista e também muçulmana-americana, foi bastante direta e elucidativa:

“A religião faz parte da identidade de Kamala, esta história não está pregando sobre a religião ou a fé islâmica em particular. É sobre o que acontece quando você luta contra os rótulos impostos a você e como isso forma a sua identidade. É uma luta que todos nós enfrentamos de uma forma ou de outra.”

Esse abordagem diferente do super-herói é quase uma atualização das dúvidas e problemas de identidade que assombravam Peter Parker, o adolescente deslocado e problemático por trás do divertido e amigável Homem Aranha.

O resultado? Foi a HQ mais vendida em seu mês de lançamento e no mês seguinte atingiu segundo lugar na lista de graphic novels do The New York Times. Agora ainda temos 4 de suas edições entre as mais compradas pelo ComiXology.

Mesmo em meio às críticas de um grupo específico de fãs que parece ecoar os sentimento do misógino e machista gamergate (evento recente no mercado americano de games), a fórmula aparece funcionar e muito bem.

E é bom que funcione: se adaptando aos novos tempos, essa indústria que tantos amam consegue fôlego para continuar existindo e produzindo as histórias que tantos amam.

 

Minha barba. Minha vida.