Desde sempre, o sonho de muita gente era se tornar escritor ou escritora, ver seu livro sendo publicado por uma grande editora e encontrá-lo nas prateleiras mundo a fora, vendendo como água.

O problema desse sonho? Fica-se à mercê da indústria editorial, que dita o que será publicado ou não e como será publicado. O autor acaba tendo pouquíssimo poder de decisão na confecção do produto final e até mesmo no lucro da venda.

Quanta coisa boa não deve ter ficado pra trás ao longo dos anos, por ser “vanguardista demais” ou “esquisito demais” e hoje seria um verdadeiro sucesso, podendo até ter mudado o mundo da época em que foi concebido?

Hoje isso não é mais problema: a internet permitiu que qualquer um que disponha de uma conexão possa publicar seu livro em formato digital. No passado, publicar de forma independente custava uma quantidade enorme de dinheiro, devido aos processos gráficos em massa e à distribuição minimamente adequada.

Há diversas plataformas online que facilitam essa prática: a Amazon possui a Kindle Direct Publishing, a maior plataforma de publicação independente atualmente.

KDP

Nela, o autor tem controle quase total sobre o livro, sua diagramação, edição de partes e até mesmo a arte da capa (o que nem sempre é coisa boa, como o tumblr Kindle Cover Disasters está provando). O retorno também é bem maior: quem escreve o livro consegue tirar até 70% de royalties sobre a obra.

Dessa forma, todo mundo tem chance de ter seu trabalho lido e mais ainda: alguns trabalhos se transformam em verdadeira sensação, 50 Tons de Cinza, que começou como uma fanfic (história escrita por fãs) da Saga Crepúsculo virou filme por Hollywood e já tem continuação prevista.

Outro exemplo interessante e autor que despontou à margem do mercado editorial tradicional foi Hugh Howey, conhecido pela saga “Silo”. Depois de alguns anos publicando e-books independentemente e trabalhando em uma livraria, o ator viu seu caminho para a fama ser pavimentado pelo sucesso de Wool, pequeno romance que inicia a saga.

hugh howey

Em poucos meses Howey viu suas vendas subirem incrivelmente, com milhares de cópias sendo compradas a cada mês. E isso faz todo sentido.

Chris Anderson, ex-editor da revista WIRED defende a teoria de que cada vez mais empresas devem focar menos naqueles poucos produtos que vendem uma quantidade gigantesca de cópias e passar a olhar para aquela quantidade gigantesca de produtos que têm tiragem pequena.

longtail

É um processo que Anderson chama de Cauda Longa, nome retirado da interpretação de gráficos estatísticos, cuja curva se assemelha a uma descida de montanha russa, ou uma cauda. E que a quantidade de vendas pulverizada nesse enorme leque de itens de pouca tiragem acaba equivalendo à dos chamados hits.

A internet torna os consumidores cada vez mais informados e buscam conteúdo mais próprio e pessoal; conteúdo que acaba apelando para um público menor porém muito mais bem definido. As plataformas de publicação independente deixam leitores e escritores felizes.

Claro que nem todo mundo sai ganhando nessa história: grande editoras estão sempre de olho nos sucessos que emergem dentro das estantes virtuais,  para correr e oferecer contratos de publicação física e de direitos autorais. Mas seu monopólio de produção, estantes nas livrarias e até de conteúdo produzido é muito reduzido.

bookstore

Publicar de forma independente parece um sonho, mas exige muito mais planejamento e esforço mental por parte do autor: desde o cuidado com uma capa legal que chame a atenção até a própria estratégia de divulgação do livro, com públicos de interesse, blogs e sites especializados. Esse trabalho que pode ser chamado de marketing acaba ficando a cargo do autor, que precisa ser capaz de se distanciar emocionalmente da própria obra de forma a enxergá-la como o produto que se tornou.

No final das contas, é um balanço: mais controle sobre a produção e lucro X menos energia investida em divulgar e tornar o livro conhecido do que efetivamente escrevendo-o.

Minha barba. Minha vida.