A capa e a chamada verbal da Revista Época desta semana “A Eleição do Vale-Tudo” já enuncia o problema: como eleitores supostamente democráticos, iremos às urnas no próximo domingo divididos entre reeleger a atual presidente Dilma Rousseff (PT) ou eleger o senador Aécio Neves (PSDB), e tendo que presenciar a disputa mais agressiva, para não dizer desumana, dos últimos 25 anos. Como bem veicula a referida publicação, em 1989, na primeira eleição presidencial depois da redemocratização, a disputa entre Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva foi igualmente acirrada. Mas não havia a divisão geográfica, entre Norte e Sul, nem a socioeconômica, entre mais ricos e mais pobres, como há agora.

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As agressões e violências verbais entre os dois candidatos presenciados nos dois primeiros debates do segundo turno, migraram para as mídias sociais e agora presenciamos a mesma virulência discursiva nos eleitores de ambos os candidatos. Novo questionamento: os princípios básicos da convivência social não pressupõem respeito às diferenças que nos singularizam? A perda de clareza nos limites que sustentam ou estruturam a coesão social apontam para uma preocupante tendência à intolerância e, até mesmo, ao ódio.

Como julgamos que a Escola é o lugar da construção de conhecimento, reflexão e debates, realizaremos na ESPM, na próxima quarta-feira dia 22 de outubro, a Palestra Mídias Impressas durante as Eleições 2014”, ministrada por mim, em parceria com o Professor Pedro de Santi. A proposta é fazer uma leitura Semiótica e Psicanalítica da representação dos principais candidatos à presidência da república em 2014, nas capas das mídias impressas de maior circulação do País.

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Abordar ou estudar certos fenômenos, no nosso caso a midia impressa (jornais e revistas), em seu aspecto semiótico é considerar seu modo de produção de sentido, ou seja, a maneira como provocam significações, suas interpretações, sabendo que, interpretar uma Obra (uma peça publicitária, uma matéria de jornal ou uma revista ou mesmo suas capas, um filme, um quadro), não consiste em tentar encontrar ao máximo uma mensagem preexistente, mas em compreender o que esta mensagem provoca de significações possíveis. Nas imagens, o rosto, os olhos, as mãos são representações sígnicas (“textos”) que comunicam, informam, significam.

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A semiótica, nos ajudaria a “ver” o que um “texto” diz e como ele é estruturado para dizer o que diz. É bom lembrar que na Europa já existem consultores em publicidade que se utilizam dos conceitos semióticos para prestar serviços às agências de publicidade, ajudando seus clientes a alcançarem a melhor comunicação entre seus públicos, respondendo às “velhas” questões: o que dizer (mensagem); como dizer (código); quem deve dizer (canal).
Nesta época de aridez (em todos os sentidos) onde o ódio gerado pela diferença de pensamento acaba por afastar o ser humano de seu semelhante, acreditamos que só diálogo democrático bem argumentado é capaz de oxigenar corações e mentes; a referida Palestra é a nossa pequena contribuição para que esta troca efetivamente aconteça e o ódio dê lugar ao afeto.

IMG_0245João Carlos Gonçalves (Joca)
Doutor em Linguagem e Educação pela USP; Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Professor de Fundamentos da Comunicação e Semiótica Aplicada na ESPM.

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