“O Iluminado” de Stanley Kubrick é um dos filmes de terror mais famosos e aclamados de todos os tempos, baseado na obra de mesmo nome de Stephen King. O filme foge das convenções do gênero de terror, pelo desejo do diretor, e dá medo como quase nenhum filme. No entanto, o próprio medo causado não é genérico, não são sustos ou até mesmo suspense, o segredo está no “creepy”.

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A tradução de “creepy” oficialmente é arrepiante, mas o que isso quer dizer? A melhor descrição é que a sensação de sentir medo, estar assustado de algo que não é evidentemente uma ameaça ou perigo é esse sentimento.

Stephen King teoriza de que existem 3 tipos de medo:

  • Gross-out; é o gore, uma cabeça mutilada ou quando as luzes apagam algo grotesco cai em você.
  • Horror; é o sobrenatural, aranhas gigantes ou quando as luzes apagam e algo te agarra com suas garras gigantescas.
  • Terror, o pior (ou melhor) considerado por ele; é quando você volta pra casa e descobre que tudo seu foi substituído por réplicas exatas, quando as luzes apagam e você sente algo respirando na sua nuca e quando vira não vê nada.

No filme de Kubrick o terror é causado pela ambiguidade, pela falta de sentido no que ocorre, você não sabe se há algo para temer/ficar assustado ou não. O perturbador vem da incerteza, por exemplo, quando alguém usa uma máscara não existe garantia de que ela será uma ameaça ou não, suas intenções são disfarçadas e desconhecidas, ambíguas.

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As gêmeas estão distantes do Danny, suas rostos sem expressão alguma e elas não apresentam nenhuma ameaça direta, apenas o convidam para brincar. A ambiguidade do convite é o que mais dá medo na cena, intercalando com o gross-out, as meninas mutiladas.

Imagine que você está em um beco escuro e escuta um barulho vindo de sua direita, seu primeiro instinto é ficar com medo, esperar o pior. O Iluminado pretende criar justamente essa primeira reação em seu espectador, pelo uso de músicas imprevisíveis que nos deixam em alerta constante. Em contraste, o cenário é totalmente comum ao invés de assustador. O hotel está sempre bem iluminado, colorido, tranquilo; mas assim como uma máscara, ele está escondendo algo.

A história também é entregue desde o início, o filme nos incentiva a suspeitar de Jack ao comentar sobre seus problemas com álcool e prévias agressões ao seu filho. Não existe uma dúvida do que vai ocorrer, apenas como. O segredo de O Iluminado está além do enredo, está na execução, já que assim mesmo como o próprio Kubrick disse: “É só uma história da família de um homem indo a loucura, silenciosamente, juntos”

O canal “Lessons from the Screenplay” fez uma análise mais a fundo do filme, além de a ilustrá-la com cenas.

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