O artista chileno Fernando Gomez Balbotin se interessa pela morte. Não que ele faça parte de algum culto gótico ou more em um cemitério. Sua curiosidade é quase antropológica: como nossa sociedade, que tanto enfatiza a vida, trata da morte?

Para o artista, nossa sociedade ocidental nos deixa submersos em uma cultura de consumo que tem como um de seus traços a negação da vida em sua totalidade, isto é, de nossa condição mortal. Tudo que consumimos é uma forma de “esquecer” de questões mais importantes ou lidar com coisas inevitáveis, como a morte.

A série de pinturas Thoughts about Life and Death traz cenas de desastres de carro e avião, porém apresentadas quase que como objetos surreais. O resultado, além de bonito, é bastante interessante.

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“Mas nossa sociedade reconhece a morte!” você pode estar pensando. Mas convenhamos, tudo relacionado à morte é tabu. Quem nunca ficou super constrangido quando perguntou de algum parente de outra pessoa e descobriu que este já não estava entre nós?

Só para se ter uma ideia de como nossa sociedade se constrange com o assunto: em 2013 o chef Alex Atala discursou no evento MAD à respeito da relação do Homem com a Natureza. Para ele, essa relação se dá em maior intensidade justamente no ato de cozinhar. Para demonstrar essa ligação, o chef encerrou sua palestra (que teve ares de show) com um dos únicos atos indispensáveis para um carnívoro: a morte de uma galinha.

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A internet se voltou contra o chef, pessoas ficaram revoltadas durante a apresentação e vários o acusaram dos mais horrendos crimes. Poucos desses sequer lembraram que quase qualquer prato que chega em nossa mesa passa por um processo igual ou ainda pior do que esse.

Claro, a ideia de que algo teve de morrer para nos satisfazer parece absurda.

Minha barba. Minha vida.