Oliver Stone é um cineasta, roteirista, produtor e veterano de guerra estadunidense nascido em 15 de Setembro de 1946 na cidade de Nova Iorque.

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Stone cresceu em Manhattan e frequentou a Trinity School até seus pais o enviarem para estudar em uma escola preparatória em Pottstown, no estado da Pensilvânia. Em 1962 seus pais se divorciaram e sua mãe foi ausente por grande parte da sua vida motivo pelo qual, no futuro, a relação entre pai e filho seria constantemente abordada em seus filmes.

Ele foi admitido na Yale University, porém abandonou-a depois de um ano para dar aulas no Free Pacific Institute, no Vietnam do Sul. Stone foi professor por seis meses e depois trabalhou como faxineiro em um navio da marinha estadunidense com destino ao estado de Oregon. Ao chegar nos E.U.A. ele voltou para Yale, mas acabou deixando novamente a universidade, dessa vez para trabalhar em um romance, o A Child’s Night Dream, que acabou sendo publicado apenas em 1997.

Em Abril de 1967, Stone se alistou no Exército requisitando estar no “front”. Ele serviu de Setembro de 1967 até Novembro de 1968 na 25ª Divisão da Infantaria, ganhando a Estrela de Bronze por seu heroísmo no campo de batalha. Durante sua estadia no Vietnam ele foi ferido duas vezes e ganhou o Purple Heart with an Oak Leaf Cluster (uma medalha aos feridos e mortos em combate) e a Air Medal, por ter participado de 25 ataques aéreos, além da Army Commendation Medal.

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Oliver Stone e outro soldado durante sua estadia no Vietnam

Stone conseguiu um Bachelor of Fine Arts em cinema pela New York University após voltar da guerra, entre seus professores na universidade estava ninguém menos que Martin Scorsese.

Seu primeiro trabalho foi o curta-metragem Last Year in Viet Nam e entre esse curta e seus primeiros trabalhos como diretor, Stone trabalhou como taxista, assistente de produção e vendedor até se firmar como roteirista no final dos anos 70.

Oliver Stone escreveu inúmeros roteiros além dos filmes que dirigiu, dentre os mais famosos estão O Expresso da Meia-noite, dirigido pelo cineasta Alan Parker e responsável pelo primeiro Oscar de Stone, Scarface do diretor Brian de Palma e também Conan, o Bárbaro.

Com três Oscars da academia (2 por Platoon – Melhor filme e Melhor Diretor – e 1 por Nascido em 4 de Julho – Melhor Diretor), Oliver Stone foi descrito pelo jornal inglês The Guardian como “uma das poucas pessoas de esquerda que trabalham no cinema mainstream dos E.U.A.”.

Seus trabalhos normalmente combinam diferentes formatos de filme em uma só cena, além de focarem, em sua maioria, em problemas políticos e situações controversas envolvendo o governo estadunidense.

Alguns filmes que este que vos escreve recomenda fortemente


Platoon (1986)

Chris (Charlie Sheen) é um recruta recém-chegado que se voluntariou para lutar na Guerra do Vietnã. Ele acredita que deve defender seu país assim como seu pai e avô em guerras anteriores. Ao tomar consciência das atrocidades cometidas pelos seus compatriotas (e por si próprio), ele passa a experimentar a real loucura de toda aquela carnificina.

Sendo um ex-combatente que também se voluntariou, é difícil dissociar a personagem daquele jovem Charlie Sheen do próprio diretor. No filme vemos os conflitos internos do pelotão, mostrando os soldados como seres humanos comuns, com erros, acertos e um requinte de crueldade por terem – naquele momento – o poder em suas mãos. Para mim, o ponto mais importante do filme é quando Chris deixa de se corresponder com sua avó (as cartas lidas por ele durante o filme configuram um recurso narrativo para representar sua consciência), cortando sua ligação com o seu antigo mundo: A inocência é a primeira (e maior) vítima da guerra para os jovens combatentes.


Wall Street – Poder e cobiça (1987)

Em um retrato do mundo corporativo da década de 80, um jovem corretor (Chalie Sheen) é atraído para o ilegal e lucrativo mundo da espionagem empresarial, sendo seduzido pelo poder de Wall Street. Ao obter uma informação importante sobre a empresa aérea em que seu pai trabalha, ele decide repassá-la a Gordon Gekko (Michael Douglas), uma lenda de Wall Street e um homem que não mede esforços para fazer sua fortuna aumentar nesse sujo mercado financeiro.

O pai do cineasta era um corretor da bolsa, portanto Stone não era (nem é) alheio a esses homens que manipulam o mercado financeiro e que geram tanto ódio quanto fascínio em cidadãos comuns, que por um lado ficam assustados com tamanha falta de escrúpulos, mas por outro se fascina por essa faceta do poder. O filme ganhou uma continuação em 2010 com Shia LaBeouf e Michael Douglas (novamente como Gordon Gekko).


JFK – A pergunta que não quer calar (1991)

Jim Garrison (Kevin Costner) é um promotor que tenta provar a existência de uma conspiração que assassinou o presidente John F. Kennedy, teoricamente assassinado por Lee Harvey Oswald (Gary Oldman)

O filme foi baseado nos livros de Jim Marrs e Jim Garrison (o próprio protagonista) e é meu filme favorito de Oliver Stone. A narrativa é absurdamente complexa, mas é regida de maneira extremamente cadente e precisa pelo diretor. O roteiro é lotado de informações e flashbacks, com inúmeros personagens, mas em momento algum deixa o espectador perdido dentro do filme. São tantas afirmações e tantos fatos que acabamos sentindo pena de quem ainda crê que Lee Harvey Oswald assassinou o presidente Kennedy e nos deixa ainda mais assustados com o poder ianque de ter conspirado para assassinar seu próprio presidente pelo tema número um da “América” (que não é, nem nunca foi a liberdade): dinheiro.


The Doors (1991)

Um retrato de umas das maiores bandas da história focado sem seu frontman. Se Rimbaud tivesse sido músico eu tenho certeza que seria o Morrison. (“Ai, Guima, que exagero…” Exagero nada, ou! O cara era um poeta!)

Não temos muito o que falar desse filme pois é impossível fazer jus. A ambientação é incrível, as montagens fantásticas (saímos do olho de um índio que atormenta Morrison para logo vê-lo cantando The End) e tem uma cena que preciso falar aqui: Assim que lança seu primeiro álbum, a banda acaba em uma festa em Nova Iorque. Quando Morrison (dopado-tresloucado) encontra Andy Warhol, ele diz “I love your music” e prontamente começamos a ouvir as primeiras notas da primeira canção do segundo álbum da banda e a voz de Morrison anunciando “strange days have found us”.

(Existe também o documentário When You’re Strange: Um Filme Sobre o The Doors que conta a história da banda e tem narração de Johnny Depp.)


Assassinos por Natureza (1994)

Em um ensaio sobre a mídia, acompanhamos a história de Mickey e Mallory, um casal que viaja pelos E.U.A. assassinando inúmeras pessoas. Quase Bonnie & Clyde (porém mais violentos, uma vez que o roteiro é baseado em uma história de Tarantino – reza a lenda que ele vendeu essa história uns anos antes pra conseguir fazer seu primeiro filme Cães de Aluguel), eles são romantizados e também endiabrados pela imprensa e acabam se tornando lendas.

É incrível vermos o sensacionalismo midiático em cima de 2 figuras tão cruéis ao mesmo tempo que entendemos os motivos que os fizeram cometer essas atrocidades. Sem contar que Oliver Stone mescla formatos durante todo o filme, chegando a retratar a vida de Mallory em família como uma sitcom e a usar modelos jornalísticos de narração durante o filme.


Ao Sul da Fronteira (2010)

O documentário examina as políticas econômicas de livre mercado historicamente impostas pelos Estados Unidos e pelo FMI na região e como elas falharam em aliviar o problema crônico da desigualdade social na América Latina e contribuíram para a ascensão de líderes socialistas e social-democratas na região.

Um pouco da faceta documentarista de Stone, esse filme procura estudar as políticas econômicas impostas pelos E.U.A. e o FMI na América do Sul e como elas falharam em resolver a desigualdade social na região. Nesse filme Oliver Stone entrevista Hugo Chávez, Evo Morales e até Lula (que se não soubessemos de tantos escândalos acharíamos um moço de bem pelo que foi mostrado a Stone). A narrativa é levada mostrando suas entrevistas com esses e outros líderes sul-americanos e mesclada com tentativas da mídia ianque de aproximá-los de figuras ditatoriais e endiabradas, o que ela, a américa do norte, sempre fez com qualquer um que ameaçasse sua hegemonia.

Com 40 e poucos anos de carreira eu arrisco dizer que Stone é meu cineasta estadunidense preferido (junto de Sidney Lumet). É incrível uma figura tão dentro da indústria cinematográfica e dos E.U.A. estar ao mesmo tempo tão fora disso tudo e  ter visto a “big picture”, por assim dizer.

Dentre os mais de 20 filmes da carreira do diretor acabamos não citando W. (sobre George W. Bush) e Nixon (que junto de JFK completam a ‘trilogia dos presidentes’ do diretor), Comandante em que o cineasta entrevista Fidel Castro e nem o próprio Nascido em 4 de Julho, mas recomendo fortemente esses filmes além dos citados acima. Stone foi capaz de mostrar para os E.U.A. e o mundo os bastidores e custos dessa hegemonia ianque e, meus caros, assistam à “Trilogia dos Presidentes” e verão que House of Cards não é tão ficção assim.

Sai sempre de casa com uma palheta, uma câmera e um livro.