Sinapse por Pedro Hutsch Balboni, 10/06/2009, às 18h40

brave Newronio ESPMNo livro “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley, publicado em 1932, um mundo distópico é descrito em minúcias proféticas e assustadoras. É tido como um clássico da literatura, recomendado por muitos pais a muitos filhos, e deverá continuar em circulação por muito tempo ainda – para não dizer para sempre. 

No livro, a palavra chave é a estabilidade. A sociedade é estável, as pessoas nascem apenas de laboratórios genéticamente prontas para assumir determinada classe social, e são condicionadas desde pequenas para tal através de repetições hipnopédicas, ou seja, durante o sono. Assim, essas pessoas estão condicionadas a serem felizes, e há uma manutenção dessa felicidade, e nas horas de crise o soma é a solução de todos os problemas, uma droga que causa bem estar e que não causa efeito no organismo das pessoas. O envelhecimento é curado pela ciência, as pessoas morrem com aspecto jovem. O consumo é estimulado, as pessoas estão sempre procurando coisas novas, não há o conceito de “pai”, “mãe” ou até mesmo “família”, acabando com qualquer ligação profunda entre as pessoas e reforçando o aspecto de que “ninguém é insubstituível”, o que beneficia o corpo social como um todo. Com o sofrimento, a velhice e o apego eliminados, some a necessidade da existência de um “Deus” para amparar as pessoas.

 

thx Newronio ESPM

 

Em nossa sociedade, nota-se algumas semelhanças. A mais gritante é o condicionamento velado sobre o qual passamos todos os dias sem perceber. A liberdade de escolha existe apenas dentro do nosso leque de opções, e é por isso mesmo que somos “livres”, como diz Sartre. A Tv nos condiciona, o rádio, todos os meios de comunicação em massa fazem isso, e, aliás, essa é a função da propaganda. Nossos pais nos condicionam (com boas intenções, claro) desde que nascemos. A sociedade como um todo nos condiciona. As leis nos condicionam, os faróis de trânsito, as repressões e os elogios. Mas há essa tal de internet, que apesar de estar submetida a todos os fatores já citados, nos permite uma espécie de respiro dentro de todo esse controle velado. Podemos inventar perfils (que seriam nossas personalidades alternativas), podemos gargalhar no MSN enquanto no mundo real temos uma expressão séria, podemos ser influentes como nunca fomos no mundo material, enfim, a rede pode ser usada como uma válvula de escape para esse condicionamento sem fim.

De qualquer maneira, é praticamente impossível para mim conseguir realizar um exercício de imaginação onde nos isentamos de qualquer fator externo condicionador, de imaginar uma situação em que realmente exista liberdade plena. E, se isso fosse possível, como será que seríamos? Ê vida de gado, povo marcado, ê, povo feliz!

 

Sinapse por Pedro Hutsch Balboni, 10/06/2009, às 18h40

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