Todas as séries deveriam ser como Black Mirror. Não falo isso no que tange às reflexões sobre o mundo moderno, temáticas ou o formato de histórias únicas por episódio, mas sim em como ela não se limita à estes elementos e ao mesmo tempo continua fiel à proposta. Claramente essa proposta é o tema central, seguido por todos os capítulos: críticas ferrenhas ao modo de vida pós-moderno e à sociedade do hiperconsumo, hedonista e narcisista. Mesmo depois de vendida para a Netflix, o mesmo sentimento amargo conseguiu ser transposto para a terceira temporada, ainda que mais romantizados em comparação às duas primeiras. A qualidade de produção consolidou uma fanbase grande, a qual adora tentar juntar elementos dos episódios, aparentemente desconexos, em um universo só, como explica o vídeo da Screen Prism.

A maior parte das conexões são feitas por meio de “easter eggs” que relacionam com eventos ou elementos de outros episódios, na maioria das vezes ligados por meio da emissora fictícia UKN. Durante The Waldo Moment (S02E03), é possível perceber a mesma chamada do noticiário que é mostrada em The National Anthem (S01E01). Ambos os episódios poderiam estar acontecendo ao mesmo tempo, uma vez que também tratam sobre temas semelhantes: a midiatização política do absurdo. As sacadas utilizadas para conectar os episódios não se limitam apenas à pequenas notícias nos cantos de tela e outros elementos visuais, ela se desdobra por meio dos recursos narrativos de cada história.  Black Mirror está sim conectado entre os episódios, porém por meio do universo psicológico miserável e degradado que nos é apresentado.

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A música Any One Who Knows What Love Is (Will Understand), da cantora Irma Thomas, é tocada em diferentes episódios e no contexto de cada um, serve como exemplo claro de como o universo se conecta pelo sentimento. Ademais, a estrutura dos roteiros é outro exemplo de como Black Mirror chama a atenção para o problema central. Não há contextualização imediata do futuro com o qual estamos lidando em cada episódio, a apresentação gradativa dos elementos e da tecnologias mostradas (estas que também se interligam) e os (famosos) plot twists criam um “efeito montanha-russa” com a expectativa de quem assiste e após a subida, quando a vista do parque (ou da construção daquele futuro) se torna clara, vem a queda, esta que no caso da série, sabemos que não será agradável.

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Ao passo que continuamos “focados”, “progredindo” e não olhando para as consequências no nosso entorno, também esperamos para saber se tais ligações entre os episódios serão exploradas em episódios futuros. Sem data exata, a quarta temporada da série antológica sai em 2018 e já possui seus nomes de episódios e diretores revelados, que podem ser conferidos abaixo:

ArkAngel – Jodie Foster (House of Cards)
USS Callister – Toby Haynes (Sherlock e Doctor Who)
Crocodile – John Hillcoat (A Estrada)
Hang the Dj – Tim Van Patten (Boardwalk Empire)
Metalhead – David Slade (Deuses Americanos)
Black Museum – estão fazendo mistério com esse

 

Crítico mirim, desenhista amador, escritor júnior e futuro diretor (se tudo der certo).