“SURREALISMO, s.m. Automatismo psíquico puro pelo qual se propõe exprimir, seja verbalmente, seja por escrito, seja de qualquer outra maneira, o funcionamento real do pensamento. Ditado do pensamento, na ausência de todo controle exercido pela razão, fora de toda preocupação estética ou moral.” – André Breton em “Manifesto do Surrealismo”

Jan Švankmajer é um cineasta nascido em 4 de Setembro de 1943 em Praga, capital da República Tcheca.

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Uma das primeiras influências que teve para seus futuros trabalhos foi um teatro de fantoches que ganhou de Natal quando ainda era criança. Švankmajer estudou no College of Applied Arts em Praga e em seguida entrou para a Prague Academy of Performing Arts. Ele também contribuiu com o filme Doktor Faust (1958) do cineasta Emil Radok na mesma época em que começou a trabalhar no Semafor Theatre, também em Praga, e em seguida fundou junto com Radok o Laterna Magika, um teatro multimídia que está em funcionamento até hoje.

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A bagagem teatral que Švankmajer adquiriu trabalhando no Semaforo e no Laterna Magika fica clara em seu primeiro curta-metragem O Último Truque. Influenciado pelo teórico Vratislav Effenberger, o cineasta abandonou o maneirismo presente em seus primeiros trabalhos e se aproximou do surrealismo que apareceu pela primeira vez em seu trabalho no filme O Jardim, fazendo com que o cineasta entrasse para o Czechoslovakian Surrealist Group.

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Cena do filme O Jardim de 1968

O cineasta foi casado com Eva Švankmajerová, uma artista surrealista que fez trabalhos na pintura, cerâmica e literatura até a sua morte no ano de 2005. Eva colaborou com inúmeros filmes do marido, incluindo Alice (uma aula que Tim Burton parece não ter assistido), Fausto e Otesánek. Abaixo, vemos uma foto do jovem Švankmajer ao lado de Eva.

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Švankmajer chamou a atenção do cenário internacional por seu uso peculiar de técnicas de stop-motion, além de sua habilidade ímpar ao criar imagens surreais que muitas vezes remetem a medonhos pesadelos.

Algumas obras do cineasta que este que vos escreve recomenda fortemente:

 1 – O último truque

Dois magos competem entre si, um vestido de azul e outro de vermelho, culminando em um final violento. Nesse filme, notamos a influência do teatro de marionetes, primeira inspiração do diretor.

 

2 – Dimensões do Diálogo

Um estudo sobre a comunicação em 3 partes: Na primeira, três cabeças de diversos materiais devoram-se infinitamente, na segunda um casal em conflito lida com os resultados de sua paixão e a terceira retrata duas cabeças jogando uma bizarra variação do jokenpô.

 

3 – Alice

Seguindo o coelho branco no País das Maravilhas, Alice acabou protagonizando uma onírica aventura por um mundo mágico. Švankmajer cria, aqui, uma obra-prima, uma abordagem surreal e ainda mais absurda do que o clássico de Lewis Caroll. Combinando animação com atores reais, o cineasta redimensiona uma das maiores histórias já escritas. Abaixo o trailer do filme.

 

4 – Comida

Meu curta preferido do cineasta, Jidlo, como é chamado originalmente, é um curta-metragem que em torno da comida nos mostra três refeições diferentes de três classes sociais diferentes. Primeiro o café da manhã dos pobres, mostrando os humanos reduzidos a máquinas vendedoras de comida. Em seguida a classe média (alta e baixa) almoçando e tendo até suas próprias roupas consumidas. Por fim, um ator aparece em um caríssimo restaurante tendo inúmeras especiarias ao seu dispor. Abaixo o filme completo.

 

5 – Insanidade

Meu longa favorito do cineasta, Jan Švankmajer diz o seguinte sobre essa obra: […] o filme que assistirão agora é um filme de terror, com toda a decadência própria desse gênero. Não é uma obra de arte. A arte hoje está meio morta, substituída pelo anúncio publicitário, pelo rosto de Narciso refletido no espelho de água. […] O filme propõe, em essência, o debate ideológico sobre a gestão de um manicômio. Em principio, existem duas maneiras de fazê-lo. Ambas são igualmente extremas. Uma encoraja a liberdade absoluta; a outra, o método obsoleto e comprovado de vigiar e castigar. Mas há um terceiro método que combina e reúne os piores aspectos dos dois primeiros. É o manicômio em que todos vivemos hoje.” Abaixo o trailer do filme.

Com 80 anos e trabalhando com cinema autoral desde 1964 (quando estreou seu filme O último truque), Jan Švankmajer já tem seu nome marcado no cinema mundial com sua técnica impecável de stop-motion e o intrínseco surrealismo presente em suas obras que influenciou cineastas como Terry Gilliam (autor de filmes como Brazil e O mundo imaginário do Dr. Parnassus) e Tim Burton.

Jan Švankmajer é um dos meus cineastas favoritos e assistir a qualquer uma de suas obras já vale o dia. Além das obras citadas acima, inúmeras outras estão disponíveis no Youtube e Vimeo. Corre ver!

 

Sai sempre de casa com uma palheta, uma câmera e um livro.