#sinapse por Henrique Castilho

 

 

Pode ser nostalgia, não sei, mas sinto falta das músicas de antigamente (da minha infância, que não é tão antiga assim). Não estou me referindo a grandes músicos, porque hoje em dia eles também existem. Falo de música ruim: não se faz músicas ruins tão bem quanto antigamente. O brega e o mau gosto nunca foram tão cool quanto nos anos 90. Compare dentro de um gênero: Victor e Léo Vs. Chitãozinho e Xororó. Sabe quando alguma dupla de sertanejo universitário vai produzir uma pérola como “Evidências“? Não, você não sabe, porque elas não vão. E não é por falta de capacidade (esses caras são grandes músicos), é porque, por algum motivo, os grandes “hits do momento” estão ficando chatos – excesso de demanda da indústria musical? Não sei.

 

Tome como exemplo um grande produtor, como o Rick Bonadio: em 1999 fez os Los Hermanos serem conhecidos com Anna Julia. Ano passado lançou a “Manu Gavassi” com “Garoto Errado“. Anna Júlia: clipe que rola um bailinho bacana com a gata da Mariana Ximenes. Garoto Errado: clipe com uma garota de headband – falo mais nada. Anna Julia é sensação em rodinha de violão até hoje. Se a Manu Gavassi tivesse tocando violão numa rodinha 80% das pessoas não iam nem saber quem ela é. E Anna Julia é brega! Tão brega que os caras do Los Hermanos têm vergonha dela (são uns bobos, a música é ótima).

 

Agora, os grandes injustiçados do brega é o pessoal do pagode melody – Fundo de Quintal, Art Popular, Soweto, Grupo Molejo e, principalmente, o Só pra Contrariar. O Alexandre Pires compôs as músicas mais cantadas na história do Karaokê e, por ser popular, acho que ninguém parou para analisar suas letras, nem as harmonias das músicas. A letra de “Depois do Prazer” é excelente e toca em um tema muito delicado sem perder a postura:

 

 

Eles que lançaram a moda da calça colorida.

Um cara ama uma garota mas fica com outra (provavelmente está distante da que ama, ou não é recíproco, ou eles deram um tempo, ou …). Porém, eventualmente, quando ele está preso na “ilusão que eu criei”, acaba se declarando para essa amante. Pois é, quem é homem já sacou, o Alexandre Pires se declara para a “outra” quando eles estão nos seus momentos íntimos – ele, como muitos caras, confunde amor com tesão. Mas “depois que acabou”, Alê (posso te chamar assim?) percebe essa ilusão e infere: “(…) o amor só se mede depois do prazer”. O amor só está valendo se rolar cafuné depois da transa. Uma outra música deles com o mesmo tema é “Essa tal liberdade” (até o Fábio Jr. já cantou com eles), o protagonista agora questiona “essa tal liberdade” da vida promíscua, pois ainda se sente solitário “pensando em você”. Veja a letra de “Depois do Prazer” inteira:

 

Tô fazendo amor
Com outra pessoa
Mas meu coração
Vai ser prá sempre teu…

O que o corpo faz
A alma perdoa
Tanta solidão
Quase me enlouqueceu…

Vou falar que é amor
Vou jurar que é paixão
E dizer o que eu sinto
Com todo o carinho
Pensando em você…

Vou fazer o que for
E com toda emoção
A verdade é que eu minto
Que eu vivo sozinho
Não sei te esquecer…

E depois acabou
Ilusão que eu criei
Emoção foi embora
E a gente só pede
Pro tempo correr…

Já não sei quem amou
Que será que eu falei
Dá prá ver nessa hora
Que o amor só se mede
Depois do prazer…

Fica dentro do meu peito
Sempre uma saudade
Só pensado no teu jeito
Eu amo de verdade
E quando o desejo vem
É teu nome que eu chamo
Posso até gostar de alguém
Mas é você que eu amo…

 

 

Falou tudo, @Dyboooa

 

 

Se o Vinícius de Moraes tivesse sacado isso, não teria casado com tanta gente. Depois vem com a desculpinha de “infinito enquanto dure”.

 

 

Quero te abraçar, quero te beijar, é só seguir a gente no twitter @NewronioESPM

Henrique passa as manhãs dos dias de semana na ESPM, as tardes dos fim de semana tocando música e as noites de terça vendo a Portuguesa no Canindé.