Desde pequenos, somos bombardeados com imagens destorcidas de relacionamentos. De contos de fadas às boas e velhas comédias românticas, os comportamentos mais bizarros são normalizados e até idealizados.

Fórmulas foram tão extensivamente utilizadas que hoje já são material para comentários e paródias, como na série Love, da Netflix. No entanto, esses comportamentos acabam sendo emulados (às vezes até inconscientemente) por nós, criando associações entre situações da vida real com as do cinema, como se elas fossem o ideal de um relacionamento.

Um exemplo de lição equivocada que comédias românticas nos ensinam, é a de que mudar pela pessoa pela qual se está interessado é algo a se fazer. Em filmes como Grease (1978) e Cinderela (1950), mulheres se transformam completamente por conta de homens, o que pode ser relacionado com um desejo inconsciente de homens como “construtores” de mulheres.

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Em filmes desse gênero também se assume que almas gêmeas são reais e que, obrigatoriamente, precisamos encontrar nossas “caras-metades”, se apoiando fortemente na premissa de que não é necessário o trabalho para que relações deem certo, o destino faz com que o suposto “romance perfeito” venha para nós natural e facilmente, o que não é necessariamente o que acontece.

A base da maioria das comédias-românticas é o casal que é feito um para o outro, mas que se afasta por razões geralmente insignificantes. O romance vem da resistência que acontece antes do casal ficar junto. Essa alegoria ensina que constantes brigas não são sinais de um relacionamento problemático, mas de um amor verdadeiro.

Ensina-se também, que se deve correr atrás do outro, que rejeições na verdade significam que devemos tentar mais vezes para conquistarmos o que queremos, não que a outra pessoa pode realmente não estar interessada, o que geralmente acontece quando mulheres rejeitam os protagonistas dos filmes, apenas para cederem e ficarem com eles no final.

Perseguir pessoas e privá-las de suas liberdades parece até algo comum nesses filmes, mas dão margem para a romantização de relações abusivas. Desde que uma pessoa seja bonita ou rica, a impressão que filmes como 50 Tons de Cinza (2015) passa é de que ela pode tratar a outra da forma que melhor entender, algo que não deveria ser normalizado.

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Outra regra que esses filmes trazem é a de que “caras legais”, se tentarem o suficiente, “merecem” que mulheres se interessem por eles, mesmo que não demonstrem sinal algum de interesse. Um exemplo dessa regra é Como se Fosse a Primeira Vez (2004), no qual Henry se aproveita da perda de memória a curto prazo de Lucy para fabricar diversos primeiros encontros, até que ela se apaixone por ele de volta e em Questão de Tempo (2013), no qual Tim usa sua habilidade de voltar no tempo para conseguir sua história de amor, ambos não dando escolha alguma para as mulheres envolvidas, o que aceitamos, já que tiveram um caminho tortuoso até serem correspondidos.

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Assim, muitas vezes o papel feminino em filmes de romance é colocado como “prêmio” para o homem, algo a ser conquistado, colocando o ideal de mulher como regra, o que gera uma pressão para que mulheres sejam descoladas, que não liguem para o que os outros pensam, mas também não deixem de se cuidarem, que sejam tudo o que um homem deseja, não o que realmente são.

Essas e mais regras, que muito provavelmente são parte do motivo de criarmos noções deturpadas de relacionamentos, foram exploradas pelo canal ScreenPrism:

De grão em grão, tanto bate até que fura.