Quatro anos se passaram desde o vestibular. Sufocos, dúvidas, projetos. O primeiro estágio, a contratação, o mercado se abrindo para a vida, a sua vida. Tudo passa como um filme na colação de grau. E vem o dia seguinte. A alegria de ter noites livres para fazer o que quiser. Tudo segue seu curso.

Mas a compensação das noites livres e da inexistência de trabalhos ou estudos, aos poucos, abre espaço para um desconforto. Distante dos amigos da faculdade, junto a colegas que competem no trabalho, começa a faltar uma troca mais autêntica. Os parâmetros se confundem com as exigências da carreira, mas não tem com quem se abrir, comparar, fazer confidências. Há medo de estar ficando sem competitividade.

Sem perceber, é envolvido pela pressão contemporânea de fazer algo incessantemente em prol da carreira, para não ficar para trás. A carreira virou sinônimo de identidade – um bom CGC que complementa um sobrenome ainda desconhecido no cartão de visitas. Logo, as noites vazias se tornam um estorvo, pois sinalizam que o tempo não está sendo gasto como deveria, em prol de sua competitividade. Vitórias são degustadas em uma noite, com ressacas na manhã seguinte. Tudo muito rápido, a obrigação de ser o melhor em tudo e de ter um ‘sim’ pronto na boca. Começa a procurar alternativas – MBA, pós-graduação, mestrado, curso no exterior, curso de línguas? Qual será a melhor opção? Mais ansiedade. Sem contar com a tal mochilada na Europa que acabou não rolando…

Não realiza que é necessário um tempo para observar o que é realmente mais indicado. Inclusive um período sabático, para dar foco ao trabalho em si, a sua performance na empresa, àquilo que falta. Parar para se ver adulto, mais maduro e o que conquistou até então. E aproveitar um pouco as noites em que não está no escritório ou em um curso, um direito adquirido pelo seu esforço.

Todos têm o direito de parar de vez em quando. Para aprender a ver oportunidades. A ansiedade reflete a superfície. As vitórias reais traduzem algo mais profundo, estratégico e delicado que têm um tempo de maturação. Sentir-se atuando e construir pontes para onde se quer chegar. Ver a carreira como uma eterna construção estratégica, que é feita com cabeça fria, passo-a-passo, com o sabor de saber que se trata da sua vida, da sua felicidade e do que faz sentido. Que só nós podemos saber melhor e nos responder.

 

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Paulo Cunha

Experiência profissional como: publicitário em agências de propaganda (22 anos), docente (15 anos) e psicanalista (dois anos). Doutorando em Comunicação pela ESPM-SP. Formação em Psicanálise pelo CEP (Centro de Estudos Psicanalíticos). Mestre em Comunicação. Especialização em: Formação de Professores para o Ensino Superior em Marketing. Graduação em Comunicação Social. Áreas de pesquisa: pensamento estratégico, comportamento humano e cinema. Autor do livro “O cinema musical norte-americano – história, gênero e estratégias da indústria do entretenimento” e Coordenador do curso de Comunicação Social da ESPM/SP.

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