No tempo do cinema mudo, lá pela década de 1920, o Ciclo do Recife, uma espécie de surto de produção cinematográfica local, produziu filmes como A filha do Advogado (dir.: Jota Soares) e Aitaré da Praia (dir.: Gentil Roiz).

Esse ciclo infelizmente foi quebrado com o início do cinema falado e, até os anos 90, a produção cinematográfica do Recife foi pautada por filmes que, em sua maioria, não conseguiam ultrapassar as barreiras regionais.

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Cena de “A filha do Advogado”.

Já na década de 90, pouco tempo após o surgimento do mangue beat (movimento musical brasileiro surgido em Recife no início da década de noventa, com bandas como Nação Zumbi e Mundo Livre S/A), outro cenário cultural começou (na verdade voltou) a se formar na cidade. Ao som dessa batida do mangue, em 1996, o filme Baile Perfumado, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, marcou o início do novo cinema pernambucano.

O filme acompanha a história de Benjamin Abrahão, mascate libanês responsável pelas únicas imagens de Lampião, quando este vivia no sertão nordestino. Benjamin se infiltrou no grupo com o intuito de vender as fotografias do famoso “criminoso” mundo afora. Abaixo, o trailer do filme.

Quase 20 anos depois dessa “volta”, o cinema pernambucano já nos presenteou com filmes como “Amarelo Manga”, “Baixio das Bestas”, “Febre do Rato” (os três de Cláudio Assis o MAIOR diretor brasileiro da atualidade – José Padilha que fique na terra do Tio Sam fazendo remake/paródia de Robocop), “Tatuagem”, “Era uma vez eu, Verônica”, “Árido Movie”, “Cinema, Aspirinas e Urubus” e “O Som ao Redor”, filmes autorais que abordam questões sociais, universais e existenciais com uma honestidade não muito habitual no cinema brasileiro.

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João Miguel e Peter Ketnath em cena do filme “Cinema, Aspirinas e Urubus”, de Marcelo Gomes.

O produtor João Vieira Jr., um dos donos da REC (produtora de “Cinema, Aspirinas e Urubus” e “Tatuagem”), diz o seguinte: “O cinema de Pernambuco é, acima de tudo, um cinema brasileiro que quer dialogar não só com o estado, mas com o país e com o mundo”.

“Cinema, Aspirinas e Urubus” foi ovacionado no festival de Cannes de 2005 e “O Som ao Redor” foi eleito pelo New York Times como um dos 10 melhores do ano de 2012, comprovando a repercussão em âmbito mundial da produção desse estado.

A seguir, alguns filmes dessa nova geração pernambucana que com absoluta certeza valem o play, além de confirmarem a fala de um grande amigo: “Essa rapazeada do Recife anda dixavando!”
E anda mesmo!

Tatuagem (dir.: Hilton Lacerda)

Em 1978, ainda em época de ditadura, uma trupe do Nordeste brasileiro conhecida como Chão de Estrelas apresenta seus espetáculos permeados pelo deboche, subversão e anarquia. Clécio (Irandhir Santos), o líder da trupe, conhece e se apaixona por Fininha, um soldado de 18 anos que progressivamente sente o choque entre o mundo rígido e cheio de atrocidades da ditadura e o ambiente subversivo e libertário da trupe Chão de Estrelas.
Prêmio de melhor filme, melhor trilha (DJ Dolores) e melhor ator (Irandhir Santos), no Festival de Gramado do ano passado.

O Som ao Redor (dir.: Kleber Mendonça Filho)

Em uma rua da zona-sul do Recife, a chegada de uma milícia acaba trazendo paz para alguns moradores e tensão para outros. Enquanto isso, Bia (Maeve Jenkings), casada e mãe de dois filhos, busca uma maneira de lidar com o barulhento cão de seu vizinho.

Febre do Rato (dir.: Cláudio Assis)

Zizo (Irandhir Santos), um poeta anarquista, vive em um mundo próprio onde o sexo, a poesia e as drogas são elementos extremamente naturais. Ao conhecer Eneida (Nanda Costa), uma mulher que se recusa a ter relações sexuais com ele, Zizo entra em choque com sua individualidade, começando a sentir falta de algo que ele nunca teve.

Era uma Vez Eu, Verônica (dir.: Marcelo Gomes)

Verônica (Hermila Guedes), uma médica recém-formada, entra em conflito ao analisar os contrastes entre a sua vida como estudante e seu trabalho num ambulatório local de condições precárias. A partir disso ela começa a questionar suas escolhas profissionais, assim como sua capacidade de lidar com a vida.

Árido Movie (dir.: Lírio Ferreira)

Jonas (Guilherme Weber), um apresentador de televisão em São Paulo, é obrigado a realizar uma jornada de retorno às suas origens em decorrência do assassinato de seu pai. Sem saber que sua avó, Dona Carmo (Maria de Jesus Bacarelli), o escolheu para vingar a família, Jonas é obrigado a lidar com uma realidade que não julgava mais ser sua.

Alguns desses filmes podem ser encontrados em versão completa no Youtube e também estão disponíveis no Netflix.
Pegue uma pipoca, um chocolate ou um drinque e ótima sessão!

Sai sempre de casa com uma palheta, uma câmera e um livro.