Em dois dias, teremos a conclusão do processo eleitoral. As campanhas foram conduzidas com estratégias de marketing profissionais. A questão era ser eleito e os dispositivos que pareceram necessários foram acionados. Uma eleição é uma campanha como outra qualquer? Uma campanha qualquer é apenas uma campanha? A linguagem e os meios não guardam relação com a especificidade do objeto de nossa ação?

Esta campanha sugere que não. Trata-se exclusivamente de ser eleito e cada atitude é medida pragmaticamente. Como os dois candidatos e partidos são amplamente conhecidos e estão no poder de alguma forma há bastante tempo, o trabalho foi mais negativo- atacar o adversário- que propositivo. Quem ganhar, vai “ganhar perdendo”, para usar uma expressão de Marina Silva.

Descobri também nesta campanha que eu e minhas irmãs, quando crianças, éramos tão maduros quanto os candidatos à presidência. A cada vez que minha mãe nos flagrava numa briga, dizíamos logo: “foi o outro que começou”, para nos desresponsabilizarmos por nossas agressões. Minha sábia mãe respondia: “não quero saber quem começou, quero saber quem vai parar”. E, eventualmente, distribuía democráticas palmadas para todos. Outra frase recorrente foi “que moral você tem para falar?”. Isto sugere que nosso padrão moral segue sendo rebaixado: nosso parâmetro deixou de ser ético, passamos a nos medir por aqueles que acusamos de baixos, numa enorme auto-indulgência.

Longe se vai algo como “a esperança venceu o medo” de Lula ou “yes we can”, de Obama. Esta campanha está sendo marcada por ressentimento e ódio, com o medo sendo insuflado dos dois lados.

Talvez isto seja simplesmente mais realista: a oposição sem ter muito o que dizer, vende-se vagamente como mudança. A situação mantem boa parte das importantes conquistas sociais sob o formato “bolsa”, o que mantem a população dependente do governo; e a campanha explorou isto, ameaçando com a ideia de que os adversários destruiriam os ganhos adquiridos.

E os números das pesquisas (com todo o cuidado com elas que o primeiro turno nos ensinou a ter) indicam que quem quer que ganhe, será por uma diferença pequena.

Saldo, quem estiver eleito na próxima segunda terá em mãos um país dividido. Quando vier a se perguntar por quê a oposição é raivosa e sistemática ou por quê o povo é alienado e distante do processo político, deveria se lembrar do quanto contribuiu para isto na condução de sua campanha.

Os fins justificam os meios ou o meio é a mensagem?

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Pedro de Santi

Psicanalista, doutor em psicologia clínica e mestre em filosofia. Professor e Líder da área de Comunicação e Artes da ESPM.

   

 

 

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