Sinapse por Ramiro Gonçalez, 19/04/2010 às 20h00

Os negócios de mídia terão uma sequência de eventos positivos nos próximos 8 ou 10 anos. Quais são as certezas: eleições, Copa do Mundo e Olimpíadas.

A sequência notável de estímulos não se restringe a estas certezas. Há ainda a probabilidade crescente, mesmo em meio a crises internacionais, de que o Brasil irá crescer a taxas médias anuais ao redor de 5% nesse período.

A TV aberta não tem o que temer, pois tem uma folgada liderança no ranking de investimentos publicitários em 2009. Uma evidência de que este fato irá se repetir futuramente é que todos os projetos comerciais ligados a Copa do Mundo de 2014 já foram vendidos.

Soma-se a isso o fato que a média per capita de investimentos publicitários no Brasil é apenas US$ 63. Se um dia a média Brasil acompanhar a média de São Paulo e Rio de Janeiro, ela irá a US$ 117 per capita (dados ABA 2009). Um crescimento de 85% – apenas acompanhando o que já é feito nos grandes centros. Evidente que seria um exagero esperar que áreas menos desenvolvidas do Brasil acompanhem este ritmo, mas é perfeitamente plausível que no Nordeste e Sul haja um crescimento de 40% nos próximos quatro anos.

Foi interessante observar junto às agências de publicidade o refluxo da crise anunciada em 2009. Esperava-se uma retração para todo o ano, mas o recuo ficou apenas no primeiro semestre. O mercado aquecido levou a uma enchente de decisões de veiculação de última hora, com enorme desgaste para agência e veículos. Claro que este é o tipo bom de problema.

Os investimentos regionais cresceram muito. A regionalização das campanhas dos anunciantes nacionais tem crescido desde 2004 e os anunciantes locais também resolveram sair da toca, incentivados pelos ventos econômicos. Mais verbas publicitárias disponíveis (no setor apenas quem sofreu com a crise foi o irmão caçula da TV aberta: a pay TV).

Outro meio importante –Jornal- teve em 2009 um período de espera. Os grandes jornais empataram os resultados com 2008, que tinha sido um ano muito bom para o setor. As estimativas da ABA apontam para uma retração de 10% no volume de investimentos publicitários voltados para este meio. Em 2010 já se espera a volta à normalidade e crescimento em linha com o crescimento do PIB.

O mercado da mídia impressa foi tão cheio de reviravoltas em 2009 que a revista CARAS informou que foram batidos os recordes de vendas em banca. Nada mais tradicional que a venda de um impresso por este canal.

 Mas a Convivência entre as mídias será 10?

Essas condições do ambiente favorecem o convívio entre as várias vertentes das mídias, pois existem recursos para todos. Se por um lado isso é positivo, por outro pode mascarar modelos inadequados ou ineficiências.

De qualquer modo, a convivência entre as mídias vem se revelando, aparentemente, mais harmoniosa do que se imaginava num primeiro momento.

Um exemplo de convivência voluntária e involuntária entre as mídias que salta aos olhos foi o ocorrido na última edição do BBB, que bateu recordes de votações. Sem entrar no mérito do conteúdo programa, surgem análises de seus feitos midiáticos.

A Folha de 2 março de 2010 no caderno Ilustrada, destaca o recorde de votação, 77 milhões de votos, alcançado pela última edição do BBB. Mesmo considerando que a audiência da TV no mesmo episódio ter ficado na faixa de 34 pontos, distante dos 50 pontos alcançados pelas primeiras edições, o produto BBB pode ser considerado um exemplo na convivência das mídias.

“A demanda por informações sobre o “BBB” movimenta a Internet de forma significativa e vai além do site oficial, que superou, segundo medição do Ibope, os 7,9 milhões de visitantes únicos em janeiro.

O número foi inédito e 25% superior ao do mesmo período do ano passado”. FSP , Ilustrada, 2 março 2010.

A constatação (em certa medida, óbvia) é que os usuários não estão abandonando a TV aberta, mas escolhendo sua programação com critérios relacionados a afinidade com o conteúdo, tempo disponível, linguagem do programa e até mesmo nível de interação que propicia com outras mídias.

Os exemplos empíricos observados mostram que apesar da queda da audiência da TV aberta, sua influência nas outras mídias aumentou. Paradoxalmente o Google, Twitter e outros serviços on line dependem do estímulo gerado pela TV aberta. As mídias, nesse caso, se alimentam mutuamente. 

Prof Ramiro Gonçalez
Autor do livro: QUE CRISE É ESSA?
Mestre em Ciências da comunicação FIA USP
Engenheiro Produção – POLI
Responsável Inteligência de Mercado – FIA USP
Fundador do Grupo de Engenheiros de Produção da Poli
Membro Conselho editorial ABA – ABEP

twitter @ramirogoncalez @NewronioESPM