Ela saiu muito cedo do Brasil com a cara e a coragem e está se dando bem em Londres (mas pode ser que não fique muito tempo por lá). Se você tem vontade de sair por aí e arriscar seu nariz fora da Terra Brasilis, ela tem ótimas dicas. Hoje a entrevista é com Biju Belinky. Aproveitem!

1) Você já está fora do Brasil há 4 anos. Conte-nos um pouco sobre essa saída.

Eu saí do Brasil com o propósito de me graduar em design de moda aqui – era meu plano desde os 13 anos, então a maior parte do que eu fiz durante meus anos de colégio foi voltado a conseguir sair de São Paulo. Consegui uma entrevista surpresa com a Central Saint Martins com 17 anos e acabei recebendo uma oferta. Foi difícil deixar meus amigos e tudo que eu conhecia, já que eu não tenho família aqui em Londres nem nada, mas considerando meus objetivos profissionais, eu não via, ou vejo, muito futuro no Brasil. Quando cheguei aqui eu mudei de curso, acabando por fazer fotografia. Isso não foi um choque muito grande – acho que o mais complicado é se acostumar com os novos códigos sociais e fazer amigos novos, porque Londres pode ser bem solitária. Eu tive bastante sorte de encontrar uma comunidade de amigos Ingleses e criativos logo de cara graças ao YouTube e a internet de um modo geral, mas ainda é diferente.

2) Como está sendo sua experiência em Londres? O que vc mais gosta por aí?

Está sendo engraçada! Eu amo a cidade muito, mas eles estão sendo muito complicados a respeito de imigrantes, e eles falam muito mais do que fazem a respeito de apoiar criatividade – as vezes chega a ser meio sufocante já que todo mundo aqui quer sobreviver, e é muito caro. Eu amo de paixão meus amigos e o fato de que sempre tem uma exposição ótima para ver e uma festa maluca pra ir. Eu também gosto do fato de que, sendo uma pessoa alternativa, eu não me sinto desconfortável, raramente gente me encara ou xinga, o que acontecia bastante no Brasil quando eu era mais nova. No momento eu estou considerando me mudar para Berlim com a minha melhor amiga, assim como muitos criativos estão fazendo. Lá eles ainda não fecharam os apartamentos baratos ou destruíram os points da comunidade alternativa. Se Londres não se cuidar ela vai morrer! Mas é um lugar muito maluco e incrível.

3) Pode nos falar um pouco das publicações que vc escreve? O que vc destacaria como as coisas mais legais nelas?

Eu escrevo para publicações que se considerariam alternativas, mas ainda são bem influentes. Eu trabalho como freelancer – já escrevi para a Dazed Digital e para a Broadly, da Vice. Ultimamente estou fazendo trabalho em vídeo. Além disso eu faço minhas próprias zines com amigos e sozinha. Eu acho que as coisas mais legais das revistas que eu trabalho para são que elas gostam de ouvir de novas perspectivas e que elas se comprometem a falar sobre problemas atuais. Se você tem algo para dizer e você consegue explicar pra eles porque VOCÊ deveria ser a pessoa a falar sobre isso – eles vão te ouvir. As idéiais visuais deles também são incríveis.

4) Pode indicar alguma coisa legal que vc viu/ouviu/assistiu nos últimos tempos? (filme/DJ/exposição, etc..)

Minha amiga Angel Rose acabou de lançar a nova zine dela, chamada Sick Bag. O trabalho dela de um modo geral é ótimo. Também gosto da Hate Zine. Minhas amigas da banda Dream Wife também são incríveis e recentemente lançaram o novo single delas. Também gosto da banda de Boston chamada Vundabar, e a banda Black Honey – eu recomendaria ir nas páginas deles do Soundcloud e começar a escavar todas as bandas relacionadas. Em termos de assistir eu fico vendo documentários bizarros no YouTube, então não acho que posso recomendar nada.

5) Qual a sugestão que você daria ás pessoas que estão pensando em ter uma experiência de trabalho fora do Brasil?

Eu diria para você não se fechar em um assunto só. A coisa mais importante aqui é o quanto você está disposto a aprender. E se você é uma pessoa que é interessada em tipo…mortuários do século XIX, não tenha medo de fazer trabalhos sobre isso. Aprenda tudo a respeito das pessoas pra quem você quer trabalhar, mas seja você mesmo. Autenticidade vai te levar mais longe que ser puxa saco. Além disso, prepare-se para trabalhar para caramba. A realidade é que aqui as coisas nunca param e é exaustivo, mas você tem que se jogar. Eu tive dias de trabalho que duraram 18 horas, e por mais que isso seja intenso, eu aprendi bastante coisa. Acho que a maior coisa é saber que nem você nem ninguém sabe tudo sobre o mundo e que toda pessoa que você conhece tem algo novo para te ensinar…Isso não se aplica só a fora do Brasil, é a mesma coisa em São Paulo. Além disso, crie as suas próprias comunidades e ajude os seus amigos – as estruturas antigas estão aí pra serem destruídas, então se trabalhar de uma forma X faz sentido pra você e seus amigos, ou você tem um projeto maluco, vá em frente. É só quebrando a cara que as coisas ficam legais. Claro que focar em sobreviver também é importante, mas ser criativo deveria ser mantido ainda assim. E uma última coisa: vai ter gente que, porquê você é jovem, acha que você não deve ser pago. Isso é mentira e a razão pela qual eles querem que você escreva/fotografe é porque você tem algo que eles querem. Trabalhar profissionalmente de graça não rola.

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Darlan Moraes Jr

Formado em Comunicação Social pela ESPM e Administração de Empresas pela PUC de São Paulo.
Foi Diretor de Criação em agências como JWT na República Tcheca, D´Arcy na Romênia, BBDO na Letônia e Rússia dentre outras. No Brasil trabalhou em agências como a McCann. Depois de 15 anos fora da pátria mãe, retornou em 2012 e hoje trabalha – através da sua empresa Nova Opção - com aproximação do Brasil, Rússia & Leste Europeu em diversos segmentos de business.
www.darlanmoraesjr.com
www.novaopcao.biz

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