L3.O é um robô deixado em uma Paris praticamente abandonada e deserta. Seus hobbies são assistir TV, fazer origami e atirar aviões de papel a todos os cantos na espera de uma companhia para seus dias solitários.

Mas o desdobramento da animação é um tanto inusitada e o final um tanto surpreendente.

As atitudes de L3.O são como que o oposto das atividades dos famosos replicantes de Blade Runner, filme de 1982. No filme, diante da consciência de sua vida finita e breve, um dos traços característicos dos replicantes era a fascinação por fotografias, memória em forma física, memória compartilhável e colecionável.

Todo replicante tem a mesma obsessão por fotos, como que estas pudessem agregar memórias a sua tão curta e finita vida, quase como uma forma de prolongar sua vivência, sua existência.

O maravilhoso discurso final de Roy (Rutger Hauger) sob a chuva é quase uma constatação da finitude: quem viverá que tenha visto tudo o que ele viu? Todas as maravilhas do espaço que somente ele, em sua experiência única e subjetiva, vivenciou?

L3.O em sua admiração pelo mundo que o cerca faz algo parecido, procura imortalizar suas experiências por meio do origami. Mas é justamente a sua aparente imortalidade, ou pelo menos o desconhecimento da finitude da vida, da morte mesma, que representa empecilho para o bom procedimento de suas amizades, bem como é o fator que nos causa tanto espanto.

Uma animação curta, mas que nos leva a pensar sobre a vida que vivemos, nossas carências e nossas memórias.

Minha barba. Minha vida.