Em 1937, a grande depressão econômica dos Estados Unidos ficou muito pior. Muitas pessoas perderam seus empregos.

A crise foi chamada de “A Recessão de Roosevelt”, o maior declínio econômico da história americana.

No contexto internacional, uma guerra estava para explodir e os EUA estavam completamente despreparados.

Apesar do tenso contexto, o swing só crescia no país, chegando a representar 70% dos lucros da indústria fonográfica. Em um momento de grande desemprego, líderes de banda chegavam a ganhar até 15 mil dólares por semana.

Porém, o público começou a se incomodar com o estilo. A expressão individual, que era a essência do Jazz, ficou em segundo plano. Os músicos tocavam as mesmas músicas, do mesmo jeito, todas as noites. As pessoas estavam se cansando.

No interior do país um novo tipo de música estava nascendo. Era um estilo cheio de Blues, tocado por todos, homens e mulheres. Era cheio de desafios, os músicos convidavam todos a participar. O nome dessa nova sensação era “STOMP”, era uma mistura de blues com tempo acelerado com vocal gritado. O homem que disseminou o novo estilo pelo país foi Count Basie e ensinou ao mundo a importância do tempo e espaço na música.

Nos anos 30, o saxofone se tornou o principal instrumento do Jazz, representado pelos grandes rivais Coleman Hawkins e Lester Young.

Em 1937, Count Basie contratou para sua orquestra a cantora Billie Holiday. Eles se tornaram muito próximos, Billie o chamava de “Daddy Basie”, ele era o único que entendia seu talento e temperamento. Billie se comportava como um homem com a banda: bebiam, riam e jogavam juntos. Certa vez, Billie ganhou tanto dinheiro da banda em um jogo que teve que emprestar para que eles pudessem comprar presentes de natal.

Holiday também era muito próxima de Lester Young, eles tinham grande afinidade musical. Gravaram várias canções em uma Jam Session que se tornou uma das mais memoráveis do Jazz.

Em 1938, um marco histórico aconteceu em Nova York.

No dia 16 de janeiro, Benny Goodman trouxe sua orquestra de Swing para tocar no Carnegie Hall, o que na época, era “como levar uma prostituta na igreja”.

A banda estava a beira de um ataque de nervos, todos estavam muito desconfortáveis, e quando começaram a tocar, isso transparecia para o público. Na primeira música, o baterista Gene Krupa percebeu o que estava acontecendo e fez algo que salvou a apresentação. Para acordar a orquestra, no momento em que o arranjo chegou a uma pausa, Krupa bateu tudo, tocou todas as partes da bateria o mais alto possível. Ao final da música a banda já estava completamente a vontade.

A apresentação também contou com uma jam session com Count Basie.

Em 1917, em Newport News, Virgínia, nasce Ella Fitzgerald.

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Assim como a Billie Holiday, Ella teve uma infância problemática.

Seus pais nunca se casaram, sua mãe morreu quando ela tinha 14 anos e seu padrasto abusava dela.

Ella fugiu e foi morar na rua. Por quase dois anos, ficou nas ruas de Nova York cantando e dançando por gorjetas.

Em 1934 entrou em um concurso de calouros no Apollo Theater. Ella sabia que o público do Apollo não era muito fácil de agradar, mas mesmo assim apareceu lá, com sapatos de homem, desajeitada e mal vestida.

A cantora ganhou o primeiro lugar. Como prêmio, ela poderia trabalhar por uma semana no teatro, mas o gerente do Apollo disse que ela não era bonita o suficiente para isso, então não deixou.

Então, voltou para as ruas, entrando em outros concursos sempre que podia, cantando com diversos grupos musicais sem receber nada.

Ao mesmo tempo, Chick Webb procurava uma bela garota para cantar na sua banda. Então mandou seu vocalista Linton atrás de uma em Nova York, e ele voltou com Ella.

A reação de Webb quando viu Ella, foi dizer: “Você não vai colocar isso na frente da minha orquestra”.

Linton enraivecido, ameaçou se demitir se Webb não desse uma chance a ela, e ele concordou. Foi a melhor coisa que fez para sua carreira musical.

Ella era um sucesso. Colocou muitas músicas em primeiro lugar.

Em 1937, ganhou o primeiro lugar como vocalista nas duas maiores revistas de Jazz da época em todo o país, vencendo até Billie Holiday.

Aos 19 anos, ganhou o título de Primeira Dama do Swing.

Quando Webb finalmente conseguiu a fama que tanto buscava, sua saúde que sempre foi frágil piorou e foi internado em um hospital em Baltimore.

Chick Webb morreu em 1939, com 30 anos de idade e falou para sua orquestra: “Cuidem de Ella”.

Mas ela não precisava ser cuidada. Mudou o nome da orquestra para “Ella Fitzgerald e sua Orquestra” e continuou no topo, gravando uma música atrás da outra.

Em 1938 aconteceu o primeiro grande festival de Jazz da história, o “Carnival of Swing”. O festival teve um público de 24 mil pessoas pagando 50 cents cada.

O grande destaque do festival foi Count Basie e sua Orquestra.

Por meio do estudo da história do Jazz, podemos entender grande parte da história dos EUA. O estilo acompanhou o país em grandes momentos, a quebra da bolsa, a depressão, o período da primeira guerra, a segunda guerra, momentos históricos que também foram marcados na trajetória do Jazz.

A série, que acaba hoje, teve como intuito contextualizar o nascimento e ascensão do Jazz e apresentar grandes nomes do estilo que foram verdadeiros marcos na história da música.

O Jazz continuou acompanhando a história, sofreu repressões no período nazista, avançou as dificuldades do momento e se mostrou sempre presente no mundo musical, depois cresceu novamente junto com o país no pós-guerra, trazendo novos expoentes e características, como John Coltrane, Miles Davis, Chet Baker e Nina Simone. Para falar deles teríamos que dedicar um post inteiro a cada um. Então fica a indicação, para saber mais sobre o Jazz, o documentário de Ken Burns “Jazz”, traz uma verdadeira bíblia do estilo acompanhando toda a história americana.

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Música, música e música.