Nunca houve tantas peças de propaganda voltadas para a propagação de ideias de utilidade pública como agora. São prints, comerciais e ações que alertam para o abuso de álcool na direção, que lembram a todos da importância do cinto de segurança ou até mesmo sobre atitudes do dia a dia, como lembrar de agradecer e elogiar ou, ao menos, ofender menos.

A todo o momento estamos sendo bombardeados por propagandas “do bem”, umas bastante simples, singelas e bonitas; outras, e inclua aqui quase todos os comerciais envolvendo acidentes de trânsito, utilizam imagens fortes, beirando, por vezes, o graficamente explícito.

Esse segundo tipo utiliza a estratégia de conscientização dita por impacto – um “tapa na cara” do público. São aqueles vídeos e anúncios que nos são incômodos, por vezes desconfortáveis. São aqueles que não aguentamos ou que não queremos repetir a dose.

Uma utilização interessante e sutil da conscientização por impacto foi o recente “comercial mais longo do mundo“. A abordagem é mais branda e o formato um tanto quanto mais criativo, mas o mecanismo do impacto está lá.

No começo de setembro, a Norfolk Constabulary lançou um vídeo sobre segurança no trânsito bastante controverso. Nele, vemos um acidente de trânsito que resulta em morte. O mesmo de sempre, certo?

Mais ou menos. As imagens capturadas são reais; são as imagens finais gravadas pela câmera do capacete de David, um motociclista de 38 anos, falecido em decorrência de uma colisão frontal.

Todos os elementos de “impacto” estão lá: a história de vida, o personagem de bem com a vida e o momento decisivo, por vezes fatal. O vídeo impressiona e se sobressai a tantos outros por ser real. Podemos sentir a dor que é a perda de um ente querido nas falas de sua mãe, que concordou com o uso das filmagens para a campanha na esperança de que menos pessoas tenham que se sujeitar a essa dor terrível.

Ficamos tocados, sentimos um nó na garganta, um embrulho no estômago e… poucos minutos depois passa. Não pensamos mais sobre isso.

A superexposição à mensagens impactantes, com “conteúdo forte”, parece que nos tornou resistentes à ela. Somos como boxeadores, tão acostumados aos socos na cara que essas peças intendem, que já quase não os sentimos.

Ao longo de colisões, a perda de entes queridos, choros, gritos e muito, muito slow motion para efeito dramático, não percebemos mais tudo que aquela mensagem representa. Criamos um filtro que limita a absorção e nos distancia daquela história.

O grande teórico, também controverso, Marshall Mcluhan já alertava em seu cânone “Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem” que o excesso de informação e estímulos nos colocaria em um estado de narcose, de diminuição da percepção de estímulos exteriores.

A grande questão aqui é: será que isso não terá, a longo prazo, efeito contrário ao pretendido por toda essa propaganda? Será que além de nos tornarmos insensíveis às mensagens  que somos expostos talvez não nos tornemos também insensíveis aos acontecimentos da vida à nossa volta?

Minha barba. Minha vida.