Hoje em dia, sugerir que William Shakespeare, maior dramaturgo da língua inglesa, era um homem culto e, para muitos, detentor do recorde de maior conhecedor do vocabulário inglês parece uma coisa batida de tão óbvia.

Uma afirmação um tanto comum hoje, no entanto, é a de que o hip hop é uma música pobre, feita de forma simples para ser facilmente assimilada pela massa. Essa afirmação se estende também aos artistas do estilo.

Comparar Shakespeare com nomes como Kool G Rap, Killah Priest ou Blackalicious parece uma brincadeira de mau gosto. Mas será que o resultado é o óbvio esperado?

Incrivelmente, não.

Matt Daniels, programador e produtor de conteúdo digital da Undercurrent em NY, resolveu usar suas habilidades para vingar e fazer justiça a seus ídolos do Hip Hop. Assim nasceu o The Largest Vocabulary in Hip Hop.

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Comparando artistas que produziram ao menos 35.000 palavras (o que dá algo entre 3 a 5 LPs) com o já citado Shakespeare e outro ícone da literatura em inglês, Moby Dick de Herman Melville.

O resultado é bastante interessante: a diferença entre os grandes mestres da literatura e a média dos cantores de Hip Hop é bem menor do que se espera. Inclusive, muitos cantores utilizam um vocabulário ainda mais rico, segundo o método de análise utilizado.

O artista campeão é Aesop Rock, novaiorquino, com letras complexas e intimistas que, paradoxalmente ao resultado da pesquisa, é criticado por muitos pela utilização de homônimos, palavras que são iguais em grafia mas com significados distintos. O rei do vocabulário do hip hop é conhecido também, por incrível que pareça, como “O rei do homônimo”.

Outro fato curioso: Os artistas de maior sucesso comercial, Snoop Dogg, 2pac, Kanye West, e Lil Wayne figuram um tanto abaixo da média dos artistas. Talvez esse fato que reforça o estereótipo mencionado no começo do texto, seja na verdade não a característica do estilo musical, mas o que a grande mídia procura apresentar para o grande público.

Claro que o método de pesquisa levanta algumas dúvidas: em um romance, a menção a personagens e eventos, bem como objetos referentes à temática acaba por tornar a recorrência de várias palavras necessária, enquanto cada música, bem menor do que um livro, tem, na teoria, chance de não ter nem mesmo uma palavra igual às músicas anteriores ou posteriores.

Mas o gráfico e as interpretações que o autor fez dele são sensacionais e necessárias pra quem quiser conhecer um pouco mais do estilo.

Minha barba. Minha vida.