Hellblade: Senua’s Sacrifice é um caso raro no mundo dos games recentemente: um jogo de orçamento médio, feito por um estúdio com 20 pessoas que conseguiu atingir o mainstream de certa forma. Nos anos recentes houve um certo sumiço desses tais jogos “médios”, seja por estúdios indo a falência pela dificuldade de competir com as maiores franquias ou até mesmo com jogos independentes (que crescem cada vez mais), e assim, surgiram dois polos completamente distantes: os gigantes da indústria e os indies que se popularizam por meio da Xbox Live ou Steam Greenlight. Talvez, Hellblade seja um dos primeiros a estar entre esses 2 polos faz algum tempo.

Mas então por que o jogo da Ninja Theory conseguiu preencher esse espaço? Primeiro, porque o jogo aparenta ser um “blockbuster”, com apresentação e gráficos praticamente impecáveis. Segundo pelo preço baixo em relação aos títulos maiores. E por último, principalmente, pelo quanto se repercutiu a sua temática sobre saúde mental, além do quão imersiva a experiência é.

Em Hellblade, você joga como Senua, uma Viking indo para o inferno em busca de resgatar a alma de seu amado. Sua jornada aparenta ser solitária, mas nossa protagonista carrega consigo vozes que falam entre si e com ela, por conta de algum tipo de psicose. Eis então que entra em questão a imersão, algo que todo jogo busca hoje em dia. Hellblade atinge isso pelo som, inclusive, o jogo até recomenda o uso de headphones por conta de seu áudio 3D binaural, te colocando realmente nos pés de Senua ao escutar vozes o tempo todo conversando entre si. A apresentação também contribui nesse aspecto, além da trilha sonora que conseguiu acertar o tom de cada momento da história.

Quanto ao modo em que o jogo abordou doenças mentais não vou falar muito para não entrar em méritos da história, já que existe muito que pode estragar sua experiência. Mas definitivamente o jogo aborda o tema com respeito, sem apelar para estereótipos, e demonstrando a sensação de pessoas que vivem assim por meio de sua imersão, apresentando como pode ser difícil viver dessa forma.

Em pouco mais de 7 horas de gameplay, o jogo é extremamente focado em sua narrativa, trazendo vários momentos de tensão por conta das vozes te sufocando em cenários angustiantes em que a qualquer momento algum inimigo pode aparecer. O jogo confia muito em seu áudio espetacular, baseando seu gameplay nisso em certos momentos, tirando de cena a luz por exemplo. Enquanto a história vai progredindo, por meio de cutscenes e narração, o gameplay é intercalado entre puzzles de perspectiva (que podem ser um pouco repetitivos) e batalhas que entram sempre na hora certa.

Definitivamente é bom ver um jogo como esse sair do seu nicho e partir para o mainstream, abrindo mais espaço para games criativos por estúdios menores que haviam perdido seu espaço. Ainda mais quando se trata de um executado com excelência, abordando temas diferentes e criando uma imersão como poucos conseguem.

Viciado em games, viciado em futebol, viciado em cinema, viciado em séries e viciado em drogas pesadas: leite, glúten e anime.