Muitos filmes de terror são conhecidos por seus personagens burros, que deixam nós espectadores indignados com sua capacidade em tomar decisões erradas. O maior problema disso é o tanto que nos retira do universo do filme, o tornando irrealista. Apesar disso, existem casos onde, se bem utilizado esses erros podem ter o efeito contrário, trazendo realismo para o filme.

Um excelente exemplo é Green Room, dirigido por Jeremy Saulnier, o filme do ano passado trouxe decisões errôneas como uma forma de avançar o enredo, e mesmo assim mantendo realismo.

A diferença entre Green Room e a maioria dos outros suspenses está no motivo por trás dos erros cometidos, todos os personagens já são apresentados como irresponsáveis antes do principal conflito. Na verdade, o filme começa com uma série de péssimas decisões – demonstrando a atitude irresponsável e inconsequente dos personagens. No filme acompanhamos uma pequena banda de jovens procurando ganhar um pouco de dinheiro, e quando o show que tinham marcado é cancelado, eles já fazem a primeira péssima escolha: tocar em um bar neonazista. E o que eles fazem quando chegam lá? Tocam uma música anti-nazista.

Logo nos primeiros 20 minutos do filme, já está completamente estabelecido que o grupo não pensa antes de agir, justificando todos os erros cometidos nas situações tensas que seguem. O diretor deixa claro que é essa sua intenção, ao preferir intuição ao invés de intelecto, acreditando que isso traga mais realismo.

O Youtuber Ryan Hollinger analisa o diferencial de Green Room no vídeo abaixo, comparando-o com Prometheus. Se você ainda não viu o filme, atenção para spoilers.

Filmes como Green Room e Blue Ruin, ambos da trilogia de Jeremy Saulnier, baseiam-se na empatia – nossa capacidade de nos colocarmos no lugar dos personagens. A premissa de ambos os filmes é como uma pessoa comum pode se adaptar em situações extremas, cometendo erros por inexperiência e acertando por instinto, adrenalina ou até mesmo pelos erros cometidos previamente.

Apesar das premissas simples, o diretor se tornou uma referência dentro do gênero, executando ideias simples com maestria, em tempos de “Rings” e “The Darkness”, Green Room é uma volta ao que o suspense/terror faz de melhor.

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