O título chamativo tem mais a ver com o cinema, mas a importância do fotógrafo Gordon Parks (1912-2006) para a história americana e pela luta por direitos civis iguais como um todo é o tema deste texto.

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Nascido em uma pequena cidade do interior do Kansas, Parks estudou durante grande parte de sua infância em uma escola segregada, pois à época brancos e negros frequentavam quase que todos os ambientes separadamente.

Devido ao tamanho da comunidade, não havia dinheiro para se construir dois ensinos médios, então o restante de sua educação foi em uma instituição mista. Coisa rara, mas os negros não eram aceitos nos times esportivos e eram constantemente desmotivados a seguir para o ensino superior.

Perdeu a mãe com 14 anos e pouco tempo depois foi obrigado a morar com parentes. Poucos anos depois foi colocado na rua e se viu obrigado a sobreviver por conta própria.

Um de seus primeiros trabalhos foi como pianista em uma Casa Noturna, mas seu emprego mais relevante foi pouco antes da Quebra da Bolsa em 1929, onde trabalhou em um Clube de Cavalheiros. Pôde usufruir livremente da biblioteca do lugar enquanto esteve lá.

Em 1925 se encantou por fotografia ao ver uma matéria sobre trabalhadores imigrantes em uma revista. Comprou sua primeira câmera por 12 dólares em uma loja de penhores de Seattle. O dono da loja revelava as fotos para o jovem Parks e se encantou rapidamente com o olhar do menino. Convenceu-o a trabalhar como fotógrafo para uma pequena loja de vestidos femininos.

De lá, sua carreira só cresceu. Seu trabalho chamou a atenção de pessoas influentes, como a esposa do então campeão de pesos-pesados do boxe Joe Luis, que o incentivou a mudar para Chicago. Seu trabalho retratando a cidade, em especial as experiências de negros em diferentes classes sociais, chamou a atenção de Roy Stryker, responsável pela FSA, agência americana que buscava diminuir a miséria em áreas rurais.

Foi durante seu trabalho ao lado de Stryker que Gordon Parks clicou uma de suas imagens mais icônicas:

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Intitulada American Gothic, uma referência à obra clássica do pintor americano Grant Wood, a fotografia era uma critica clara à posição em que o negro americano era colocado dentro da sociedade. A referência ao quadro, considerado um retrato do americano trabalhador de 1930, era um tapa na cara da segregação racial.

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A FSA foi desmontada na década de 1940, o que levou Parks a procurar trabalhos autônomos em publicações de moda, algumas de grande porte como a Vogue. Mesmo em meio a muitas críticas racistas, seu trabalho ganhava mais e mais notoriedade.

Na década de 1950, Gordon Parks finalmente foi escalado como fotografado da revista Life, onde era responsável principalmente por retratar a situação racial americana. É desse período que algumas de suas fotografias mais famosas foram feitas. Algumas dessas fotografias só foram reveladas recentemente, quando alguns rolos de negativo foram encontrados em caixas antigas.

gordon_p10 gordon_p9 gordon_p8 gordon_p7 gordon_p6Sua militância pelo reconhecimento dos direitos de negros o levou a ser consultado em diversas produções hollywoodianas durante o começo da década de 50. Em 1969, escreveu e dirigiu sua autobiografia, The Learning Tree. Tornou-se assim o primeiro grande diretor de cinema negro, tendo contribuído muito para o movimento conhecido como blaxploitation, de fomento e valorização da cultura e presença negra no cinema.

Seu grande sucesso cinematográfico foi o longa Shaft (1971), sobre um descolado detetive particular do Harlem na difícil solução de um caso de sequestro.

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Além de fotografar e dirigir, Parks também foi bastante produtivo como músico, tendo composto a trilha sonora de vários de seus filmes e até mesmo alguns librettos, entre eles um sobre a vida de Martin Luther King Jr.

Durante toda a sua vida, Gordon Parks foi um ativo militante do movimento negro nos Estados Unidos, trabalhando em diversas frentes para valorizar a cultura negra e inclusão de negros no mercado de trabalho criativo.

Sua vida e obra são hoje guardadas pela Gordon Parks Foundation, que zela pela sua memória por meio de exposições, palestras e relançamento de livros. Também foi condecorado com mais de 20 doutorados honorários por todo o território americano.

Parks morreu de câncer em seu apartamento em NY em 2006, aos 93 anos de idade.

 

Minha barba. Minha vida.