Não é de hoje que as histórias dos games são super elaboradas. Lá em 1995 Chrono Trigger já apresentava uma trama que misturava viagem no tempo, singularidade e até mesmo a morte do personagem principal.

Cada ação dos heróis impactava diversos outros personagens e lugares, em uma trama que crescia à medida que o jogador progredia. Não era a toa que o game tinha vários finais diferentes: o jogador tomava rumos diferentes ao longo da história.

Os videogames foram evoluindo e isso não foi sentido apenas nos gráficos: jogos com cada vez mais histórias paralelas, ações dos jogadores que alteram completamente a história a ponto de se jogar com histórias diferentes a cada vez que se joga.

Mas os games mais lembrados e queridos dificilmente são os que fazem uso de infinitas possibilidades de história, são aqueles que usam toda a capacidade de imersão do games, da identificação com o personagem jogável à seu papel na história contada/criada, para apresentar uma história profunda e humana.

Um dos jogos mais comentados e adorados dos últimos anos é The Last Of Us, game de sobrevivência que coloca os jogadores na pele de Joel, que tem como missão proteger a pequena Ellie.

Mais do que apenas um game que coloca o espectador diante de obstáculos a serem vencidos, o game explora de maneira sensível a condição humana, o afeto e os efeitos psicológicos da solidão e do desespero, isso aliado a uma jogabilidade ímpar e trilha sonora inesquecível.

Muita gente se emocionava com a história e queria mostrá-la para outras pessoas, gamers ou não, e isso geralmente se mostrava um problema. Só contar o que acontece não costuma abarcar todas as nuances que a trama aborda e jogar toma um tempo considerável de pessoas que não têm esse costume.

Foi pensando nisso que o estudante de Game Design e Videomaker Grant Voegtle tinha em mente quando começou seu insano e gigantesco projeto de transformar a trama do jogo em uma web-série.

São 7 episódios de mais ou menos 40min que apresentam tudo que a história tem de melhor, sem a necessidade de pegar no joystick. Cada episódio demanda de 20 a 30 horas para ser feito e editado: Voegtle capta tanto cut-scenes (as animações dentro do jogo) quanto cenas de gameplay (jogando), que chega a jogar mais de 100 vezes para obter a cena ideal.

Todo esse esforço parece dar resultado: a equipe de produção do game, a NaughtyDog, percebeu o esforço do garoto e apoiou a ideia.

E mais: grande parte do público que assiste à web-série é justamente de não-gamers, algo novo no canal quase que exclusivamente centrado em gamers como o de Voegtle.

Mas juntar conteúdo produzido para videogames com cinema nem sempre dá bons resultados. Em 2008, a Capcom, tradicional produtora de games, em parceria com a Sony lançou a animação Resident Evil: Degeneração.

A história gira em torno de um atentado terrorista em um aeroporto e Leon e Claire, personagens do game, precisam assegurar que a contaminação não se espalhe.

A edição, movimentos de câmera e diálogos seguem muito o formato das cut-scenes, parecendo mais uma colcha de retalhos de um game do que uma animação coesa. A todo momento o espectador sente falta de um controle à mão.

A indústria de games é hoje a que mais movimenta dinheiro no setor de entretenimento, tendo ultrapassado inclusive o cinema. Escritores e roteiristas profissionais cada vez mais migram para os games, onde podem dar vida a suas mais insanas ideias.

 

Minha barba. Minha vida.