Sinapse por Lucas Youssef, 23/04/2010

Vai avanti. Vá em frente. Um site delicado. Talvez, se encontrado por acaso, leve alguém a pensar, em meio ao despreparo diante da tela: O que é isso e o que faz? Não faz nada. Mas faz muita coisa. O que parece? Uma alucinação. Uma viagem infinita pelo horizonte. Uma obra de arte. Talvez seja uma alucinação sobre os horizontes da obra de arte. Não é “viagem”. Vai avanti simboliza exatamente isso.

O autor é Rafaël Rozendaal, artista de 29 anos que trabalha com arte há dez. Nascido em Amsterdã, é um cidadão do mundo: morou em cidades completamente diferentes, entre elas Berlim, Paris e Rio de Janeiro (aliás, sua mãe é brasileira). Além de obras físicas, Rafaël tem diversas obras no formato de sites. Na verdade, muito do que ele expõe ao redor do mundo se origina na internet ou possui nela algum complemento importante.

Umas das marcas do artista é a interatividade. Quase todas as obras virtuais têm algo  que depende do espectador para acontecer. E uma experiência nunca será igual à outra, já que mais do que ver, há o convite para participar e ajudar na criação. Como exemplos há into time e cold void. Into time, em que os clique dividem a tela, mudando as cores e criando um visual novo, é uma observação sobre a criação de algo novo e interessante cada vez que exploramos melhor aquilo de que dispomos e temos a possibilidade e perceber nuances que não conseguíamos antes. Cold void em que é possível tirar uma teia de aranha da tela, se houver alguma vontade, já que não é possível tirá-la de uma vez, o que talvez critique a oposição entre a facilidade para deixar as coisa paradas, envelhecendo, e a dificuldade para renová-las.

As críticas estão muito presentes nas obras e abrangem muitos aspectos do invíduo e da sociedade. Broken self  mostra a fragilidade do indivíduo e sua destruição. Fatal to the flesh revela a desimportância do outro e a capacidade de machucar, ainda que sem querer, na tentativa de descobrir o que existe por trás do superficial. As geniais to the water e hot doom são dois exemplos de críticas aos tão comentados impactos das ações antrópicas sobre a natureza. A primeira, consiste em tentar em vão alcançar um copo d’água, enquanto esta se esvai; uma metáfora brilhante sobre o problema da água. Na segunda há um desastre natural, um vulcão em erupção, cujas conseqüências são tremendamente piores quando há ação humana (simbolizada pelos cliques). Não é para qualquer um.

Alguns do sites de Rafaël são antigos, sim. Mas, reza a sabedoria popular que antes tarde do que nunca: ainda bem que descobrimos seu trabalho. E é possível dizer: a arte, como sempre provocadora e questionadora, invadiu de vez a internet e fez dela palco para suas novas invenções. Alucinante como o hybrid moment, uma explosão, uma luz totalmente nova. Ainda bem.

Twitter: @yousseflucas @NewronioESPM