É interessante imaginar que os grandes festivais dos livros são um perfeito exemplo de como a literatura ainda é uma das grandes formas de conhecimento que compartilhamos com todos a nossa volta e na FLIPOÇOS não é diferente. Seja por suas narrativas, os estilos ou o conteúdo em si, todos que estavam ali reunidos tem algo a acrescentar em nossas vidas.

Antes de ir atrás de palestras e workshops, decidi me aventurar pelos corredores da exposição, no Espaço Cultural da Urca, o antro de eventos da cidade que recebe mais um ano a edição da FLIPOÇOS e da 11ª Feira Nacional do Livros. Entre os stands, em sua maioria de livrarias menores, não deixo de perceber como todos sentiam um certo orgulho de estarem lá, mesmo que por alguns dias, vendendo livros e conversando sobre cultura.

Enquanto a cerimônia de abertura não começava, eu pensava o que uma cidade tão pacata e amigável poderia ter de tão rico para a cultura literária que a tornava sede de um evento como esse. A princípio pensei, exclusivamente, na região montanhosa, no clima agradável e na tradição da cidade como a festa de São Benedito que para inteira em uma comemoração religiosa, porém quando o mestre de cerimônias começou a apresentar os grandes homenageados da semana, tudo fez mais sentido.

Entre eles estavam Euclides da Cunha, grande escritor brasileiro da conhecida obra Os Sertões e que completaria 150 anos, o patrono José Murilo de Carvalho, cientista político, vencedor do Prêmio Jabuti e membro da Academia Brasileira de Letras e Benedita Pires Duarte, escritora nativa.

Entre esses dois nomes de grande porte nacional, a homenageada parecia um pouco ofuscada ao meu ver. Porém, foi quando seu nome foi anunciado que percebi que estava diante da pessoa mais amada da cidade de Poços de Caldas.

Tite, como gosta de ser chamada, é uma senhorinha que foi aplaudida de pé e sempre mencionada em todos os discursos das autoridades ali presentes. Como todos falaram, ela foi a professora de toda a cidade, praticamente, e despertou o interesse da cultura entre aqueles que tiveram a honra de passar por sua sala de aula.

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A paixão de Tite pela literatura começou cedo e logo que seu pai observou o quanto ela amava esse universo, a matriculou na escola da cidade, com ensino melhor que a rural. O amor foi crescendo e foi decisor para embarcar na universidade e começar a publicar suas crônicas no jornal da cidade de Poços, enquanto lecionava no colégio.

Tite pode ter se aposentado a muito tempo, mas o seu amor e dedicação serviram como inspiração para a cidade crescer culturalmente e merecer o espaço para a grande feira.

Com o pé na estrada e a cabeça na lua.