O quinto e último dia da FLIP 2015 amanheceu de maneira bem mais calma em Paraty. Depois do ápice de lotação no Sábado, o último dia da FLIP estava nublado e um pouco mais fácil de caminhar pelas ruas do centro histórico.

Às 12h, na tenda principal o escritor cubano Leonardo Padura (autor de “Paisagem de Outono”, “Adeus, Hemingway” e o mais recente “O Homem que Amava os Cachorros”) e a escritora britânica Sophie Hannah (que recentemente publicou “Os Crimes do Monograma”, um romance com o detetive Hercule Poirot, no mesmo universo da escritora Agatha Christie). Padura disse que seus entrevistadores vêm se preocupando cada vez mais com seu país do que com suas obras e que se espantou com o número de pessoas que o abordaram em Paraty se identificando como ex-trotskystas, uma vez que “O Homem que Amava os Cachoros” é um romance que relata a morte de León Trostky. Padura também disse que o livro é mais anti-stalinista do que pró-trotskysta.

Sophie Hannah exaltou a literatura de Agatha Christie e contou como seu agente, sem lhe consultar, havia sugerido a volta de Poirot e os herdeiros da escritora aceitaram, foi assim que surgiu a proposta de criar “Os Crimes do Monograma” – que, vale dizer, contém o nome de Agatha Christie na capa. Ela criticou a abordagem com realidade excessiva das narrativas de hoje, afirmando que prefere investigadores que sejam brilhantes como Poirot e Miss Marple, outra personagem importante de Christie. Padura, por sua vez, disse que tramas policiais são um pano de fundo para falar de sociedade.

Depois de um cafézinho nesse começo de tarde gelado em Paraty, outra volta no centro histórico onde parei em uma livraria e sem mais delongas me dei de presente um romance policial de Leonardo Padura. Por sinal, essa é uma das coisas mais interessantes da FLIP. Em uma abordagem mercadológica, as mesas não deixam de ser uma “propaganda de uma hora e meia sobre os autores”. Depois da fala de David Hare no Sábado, seus exemplares na livraria quase sumiram. Depois da mesa de Paduro e Hannah, minutos depois inúmeras pessoas saiam da livraria com seus livros em direção à mesa dos autógrafos e por terem se interessado pelos temas.

Às 16h, a última mesa da FLIP 2015 se chamava “Livro de Cabeceira”, onde alguns autores que participaram da festa se juntariam para ler trechos de seus livros favoritos. Marcelino Freire declamou um poema do livro “Sangue Nedro”, da moçambicana Noemia de Souza, Carlos Augusto Calil se emocionou lendo “O Poeta Come Amendoim”, poema do grande homenageado Mário de Andrade. O australiano Richard Flanagan leu um trecho de “A Terceira Margem do Rio”, do brasileiríssimo Guimarães Rosa e a poetisa Matilde Campilho leu trechos de “Textos para Nada” de Samuel Beckett. No fim dessa mesa, foi exibido o vídeo do italiano Roberto Saviano, que não pode vir à festa por problemas de segurança, em que ele dizia desejar vir à FLIP em outros anos.

Nesse clima de homenagem aos grandes escritores desses grandes escritores, a FLIP 2015 se encerrou. Indo embora, perto da saída do centro histórico, um senhor grisalho tocava sozinho no saxofone “Carinhoso”, de Pixinguinha. Deixei algumas moedas pra ele, que agradeceu e me fui com o saxofone ressoando.

 

Espero que tenham gostado dessa cobertura do Newronio ESPM na FLIP 2015. Só posso agradecer à ESPM por me ter confiado essa missão incrível de ser correspondente durante essa festa tão importante para a literatura, o mercado editorial e para a cidade de Paraty, um lugar que nunca esquecerei. Muito obrigado a todos que nos acompanharam durante essa cobertura e até a próxima!

 

Sai sempre de casa com uma palheta, uma câmera e um livro.