Às 7:15 dessa quarta-feira eu estava no metrô de São Paulo, em direção à estação Portuguesa-Tiete. No frio próprio da capital eu me preocupava em ter trazido coisas de mais ou de menos e tentava lembrar qual teria sido a última vez que peguei um ônibus para fora da cidade. Depois de alguns minutos estando completamente perdida dentro da rodoviária, o meu ônibus saiu as 8 da manhã.

Trezentos quilômetros, duas paradas, alguns cochilos, muitas curvas e sete horas depois eu cheguei em uma das cidades históricas mais famosas do país para cobrir a Festa Literária Internacional de Parati (FLIP).

Ou melhor, as FLIPs.

Apesar do próprio evento se dividir em três ou quatro vertentes – dentre elas a Flipinha, dedicada às crianças, e a Flipzona, voltada para os adolescentes – e, além disso, a Casa do IMS, a Casa Folha e outras oferecem programações que se somam à principal, o que me faz caracterizar a festa como vários eventos são as dezenas de livrarias, bares e lojinhas que contribuem para a atmosfera da cidade com seus saraus, debates, mini shows, etc.

Lá pelas 19 horas, me dirigi à tenda dos autores (na verdade, ao telão atrás da tenda) para assistir a abertura da festa que começou com o poeta Eucanaã Ferraz entrevistando o fotografo e diretor Walter Carvalho e o também poeta Armando Freitas Filho.

A conversa decolou nas intersecções entre poesia e o cinema, passou por Godard, os limites das duas formas de arte e suas origens e pousou em Ana Carolina Cesar, a escritora homenageada esse ano pela FLIP.

Armando dividiu um pouco de sua relação com a poeta. “O que me impressionou logo foi a maneira como ela provocava você para falar e ouvir. Tudo era um problema para ser resolvido. A gente discutia se o verso livre era livre mesmo e como pôr as vírgulas”. Os dois escritores eram amigos próximos à ponto de ele ter sido a última pessoa para quem Ana C. ligou antes de cometer suicídio em 29 de outubro de 1983. As lembranças do autor emocionavam todos que estavam presentes.

Ao fim da conversa, foi exibido “Manter a linha da cordilheira sem o desmaio da planície”, o novo filme de Walter que acompanhou Freitas Filho por sete anos e mostra o poeta como um andarilho carioca que odeia viajar, mas que pela amiga de longa data saiu de sua casa e veio à Parati prestar sua homenagem.

A menina que não sabe o que escrever.