Do mesmo produtor de Flash e Arrow, Blindspot é uma série da NBC que nos chama a atenção logo de cara por conta imagem de uma linda mulher (Jaimie Alexander), que se apresenta quase toda tatuada. Jane, nome da personagem, está coberta por imagens complexas e cheias de significados a serem revelados. A série ostenta, a cada episódio, o desvendar de enigmas contidos em cada uma das tatuagens. Logo no primeiro episódio, sem se lembrar de quase nada, Jane é encontrada dentro de uma mala na Time Square, em Nova Iorque. A cena inicial é marcante, diferente; um verdadeiro espetáculo imagético. Jane sai da mala, linda, estonteante. Entretanto, o que há de diferente na série parece parar por aí, no primeiro episódio. São 23 no total. Alguns bem adormecedores. Todos seguindo aquele formato bem norte-americano, tipicamente americano, diria Caetano Veloso. O FBI, que se mantém em confronto constante com a CIA pela supremacia do combate ao crime, enfrenta criminosos com super poderes, que, inspirados pela insaciável Teoria da Conspiração, tramam os mais descabidos atos terroristas contra tudo e todos.

São muitos episódios para trazer muito pouco. Trata-se realmente de uma séria que pouco nos dá para extrair, pensar. Vê-la seria um puro exercício de matar o tempo, pois, eu prefiro séries que me intrigam, levam-me a pensar e, se possível, desafiam-me a sair do arrogante lugar de quem acha que já viu quase de tudo na vida. Sem dúvida, este não é o caso desta série. Como bom autoquestionador que sou, perguntei-me enquanto enfrentava os 23 episódios, por que raios você continua assistindo até o fim uma série que você já percebeu que não gosta?

Uma primeira resposta possível que me veio foi: orgulho. Argumentei a mim mesmo: “eu lá sou alguém que abandona uma série no meio e não a aguenta até o fim”? Sim, sou. Já fiz isto com algumas, uma delas “How to get away with murder?”, por exemplo. Intrigante, diferente e inteligente no início, mas repetitiva e superficial demais no decorrer de seus episódios. Esta, então, não era a resposta que eu procurava.

Outras possibilidades que poderiam me responder àquela pergunta, mas também as descartei como motivo principal daquele martírio todo: – beleza de Jaimie Alexander, as cenas de ação, o conhecido formato da série 24 horas e outros. Todos descartados, visto que estes estão longe de configurarem aspectos que trazem alguma diferenciação à série e que me levariam a quase 23 horas de sofá diante da tela. Bom. Depois de muito pensar, acredito que tenha encontrado o que me fascinava naqueles 23 longos episódios: a Patterson.

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Ashley Johnson, a garçonete de Os Vingadores de 2012, faz o interessante papel de chefe do departamento de ciência forense do FBI. Patterson apresenta uma característica que me fascina: ela é cientificamente fuçadora. Sua curiosidade a leva a ser estudiosa, pesquisadora, observadora, questionadora, ou seja, cientista. E isto é fascinante em alguém. Freud denominou pulsão epistemofílica aquele desejo de saber, típico de nossas crianças que podem nos levar à loucura com seus porquês. O próprio Einstein afirmou sua diferença em relação a seus colegas era sua curiosidade, sua força fuçadora, que o levava a tentar explicar a origem do universo, da vida. O físico atribuiu a seu retardamento, que o levou a só falar aos 3 anos e meio de idade, a elaboração da teoria da relatividade. Segundo ele mesmo, enquanto seus colegas pensavam em ter sucesso na carreira, em se qualificar para um cargo em alguma empresa, ele pensava no tempo e no espaço. Bingo. Teoria da relatividade. Patterson tem esta pureza da curiosidade, da busca com método pelo saber, pela construção do conhecimento. O saber científico, aquele que traz o prazer da descoberta e da problematização do que se parece como estabelecido, é nítido em Patterson. E isto faz toda a diferença em um mundo que insiste em voltar às trevas, em esconder suas descobertas, em enterrar sua ciência em nome do espetáculo midiático, que pode mutilar grande feitos e iluminar mediocridades.

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João Matta

Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP com doutorado sanduíche na University College of London (UCL). Atualmente é professor do curso de Publicidade e Propaganda da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

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