Ouvi outro dia comentários sobre perguntas realizadas em entrevistas de emprego. Uma das questões me fez pensar – “Como você moveria o Monte Fuji de lugar?”. Afinal, o que esta empresa realmente gostaria de saber, ou melhor, de ouvir dos entrevistados? Lembrei-me das mitológicas pressões contemporâneas para que estejamos sempre certos e que errar é algo execrável no mundo corporativo. Percebi o jogo perverso por trás da pergunta, que certamente já transformou dinâmicas de emprego em um festival de propostas muito loucas para sanar a referida questão. Não me pareceu pertinente que a expectativa residiria em cálculos de engenharia para efetuar a tarefa, muito menos algo dito criativo como “convocar Hércules”. O que me pareceu óbvio é que a empresa gostaria de ver à sua frente alguém que simplesmente pudesse dizer “não é possível fazer tal tarefa!”. Confirma minha sensação o fato de que empresas desejam contratar gestores que sinalizem quando algo não vai bem ou que algo não será feito como previsto, assim como não tentem desvairadamente acertar quando a perda é inevitável. O que me leva a uma reflexão: por que continuamos a buscar uma perfeição irreal, que só serve para turbinar o stress nosso de cada dia? Por que tememos simplesmente dizer “não”? Qual é o medo afinal?

foto-paulo-cunhaPaulo Cunha
Experiência profissional como: publicitário em agências de propaganda (22 anos), docente (15 anos) e psicanalista (dois anos). Doutorando em Comunicação pela ESPM-SP. Formação em Psicanálise pelo CEP (Centro de Estudos Psicanalíticos). Mestre em Comunicação. Especialização em: Formação de Professores para o Ensino Superior em Marketing. Graduação em Comunicação Social. Áreas de pesquisa: pensamento estratégico, comportamento humano e cinema. Autor do livro “O cinema musical norte-americano – história, gênero e estratégias da indústria do entretenimento” e Coordenador do curso de Comunicação Social da ESPM/SP.

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