A sequência das últimas eleições e os desdobramentos da operação Lava-jato chegam a um ponto importante.

À sombra das manifestações de 2013, apontam manifestações para os dia 13 e para o dia 15 de março. Elas não serão exatamente opostas, uma vez que ambas protestam contra perdas do padrão de vida e direitos sociais, do ano passado para cá. Mas o clima de “nós contra eles” já eliminou aquela percepção, de modo que tudo foi tragado novamente para a mesma vala comum dos opostos. A princípio, a primeira será de apoio ao governo e a segunda, de oposição. Como a de oposição pode envolver uma dimensão de golpe, ela não é unânime entre todos os que estejam descontentes.

Até por conta do acirramento dos dois lados, há um movimento menor e menos ruidoso que almeja uma terceira via. Nem aceitação da condução política e ética do governo, nem impeachment. Mas isto ainda não tem uma formulação maior e não cabe num simples apoio ou repúdio à presidente.

Este texto vai só para lembrar algo sobre as manifestações de 2013. Elas não tinham bandeira ou centro: este era ao mesmo tempo seu ponto de novidade e problema de continuidade. Isto já faz as duas manifestações que vêm por aí serem muito diferentes: ambas têm objeto específico e organização centralizada.

Com toda a vitalidade que as manifestações representaram há dois anos, havia o temor de que eles se resolvessem num sentido conservador. Isto parece estar se confirmando. De minha perspectiva de análise, será conservador ir para a rua pedir uma ruptura democrática; e também será conservador ir à rua sustentar de forma acrítica o partido que está no governo federal há 12 anos e pouco.

A presidente tem tido, ao menos agora, o enorme bom senso de não acirrar o ódio, inclusive aguentando manifestações ferozes de oposição sem responder na mesma moeda. Bem diferente do que tem ocorrido nos vizinhos Argentina e Venezuela. Seria ótimo se as duas manifestações conseguissem se manter no mesmo prumo. Mas isto é pouco provável, sabemos.

O “nós contra eles” que me interessa não é PT contra PSDB, mas o pacto democrático contra a ditadura (quer de esquerda, quer de direita). Haverá incendiários nas duas manifestações. Eles podem estar de um lado ou do outro, mas são mais parecidos do que se dão conta. Que eles não prevaleçam.

Petistas capazes de auto-crítica e oposicionistas não golpistas deveriam sair de mãos dadas no dia 14, mesmo que por ora a gente só lote um fusca.

desanti

Pedro de Santi

Psicanalista, doutor em psicologia clínica e mestre em filosofia. Professor e Líder da área de Comunicação e Artes da ESPM.

   

 

 

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