Sinapse por Pedro Hutsch Balboni, 25/08/09 às 17h30

Criatividade Newronio ESPM

Falando novamente um pouco mais sobre o tema que a Flávia já falou aqui no Newrônio, tentarei aprofundar um pouco nossa reflexão sobre a educação, o processo que nos adapta à sociedade e nos condiciona a sermos socialmente o que somos. Você já parou para pensar sobre isso, o quanto do que você é e faz realmente foi sua escolha?

No texto citado, a Flá deu um foco bem grande à educação dada para as crianças nas escolas, eu gostaria de tentar aprofundar o tema. (Aliás, assista aqui o vídeo de Ken Robinson com legenda em português). Viver em sociedade não é fácil. O ponto é que a vida social é inviável sem estabelecer limites, afinal, “a liberdade de um acaba onde começa a do outro”. Por essa necessidade de organização do corpo social, foram criadas leis e todos os sistemas legislativos, com os encarregados de criá-las, de monitorar se elas estão sendo cumpridas, e de aplicar penalidades para que o descumprimento não passe despercebido e se repita sistematicamente. 

Além das leis, a própria sociedade estabeleceu, de forma quase “instintiva”, alguns padrões de condutas adequados. Não está previsto no código penal nenhuma punição para alguém que espirre na cara do outro, mas qualquer um poderia saber que esse não é um comportamento adequado (ainda mais numa época suína como a nossa!). É o que muitos pensadores chamaram de moral, um algo que rege nosso ser social e que, mesmo quando não agimos de acordo com ela, sabemos que a estamos desrespeitando. 

Um Sábado Qualque Moral Newronio ESPM

A moral é muito mais maleável do que são as leis, pois ela nasce do convívio durante todos os dias e entre todas as pessoas, ela tem a capacidade de se adaptar automaticamente às mudanças. Nossas relações sociais estão se transformando com o mundo moderno, como se relacionar com as pessoas pela internet, por exemplo, em cada uma das possibilidades, como emails, redes sociais, twitter, etc…? As leis estão um passo atrás da moral nisso. As pessoas já sabem como escrever em cada um dos possíveis ambientes e de acordo com o interlocutor com que falam.

Essa chamada “moral” vem carregada com uma grande dose de condicionamento que recebemos todos os dias em nossa vida sem notar (finalmente chegamos ao ponto!). O exemplo que darei agora funcionava muito mais nos anos 80, mas ainda é válido:

Imagine um homem, chefe de família. Todos os dias, seu dispertador toca as 7h da manhã, ele levanta, sua mulher lhe prepara um bom café da manhã, ele deixa as crianças na escola e vai trabalhar. Na hora do almoço, perto do meio-dia, ele vai almoçar com os colegas de trabalho, e depois volta ao ofício. Quando dá seis horas, ele já pode ir para casa, pega seu carro, e traça aquela rota que está acostumado a traçar todos os dias. Quando o farol está vermelho, ele pára. Quando está verde, ele anda. Se quer virar, ele usa a seta. O homem chega em casa após o cansativo dia, a família o recebe, eles jantam e vão assistir TV, onde passam anúncios publicitários, exibindo os mesmos produtos que, conscientemente ou não, podem ser encontrados, nas geladeiras, armários e em todos os lugares da casa daquela família. 

Lógico que é um exemplo caricato, como avisei, mas é possível ver nele alguns elementos condicionadores muito fortes que todos nós enfrentamos. O relógio dizendo onde devemos estar e o que devemos fazer a cada hora de nosso dia, a publicidade mostrando o que devemos consumir, os semáforos regulando todo o tráfego.. O fato é que a maioria desses elementos realmente é necessário para regular a vida em sociedade, mas fica mais do que óbvio o quanto isso tolhe nossa individualidade e consequentemente nossa criatividade. O professor Clóvis de Barros Filho, no vídeo abaixo, fala sobre isso, e que, para os grandes pensadores, a felicidade nasce da nossa liberdade de escolha:

 

 

Isso quer dizer que a vida em sociedade não pode ser uma vida feliz? Não, não é isso que estou dizendo, e mesmo que fosse, acho difícil de encontrar alguma forma de não viver em sociedade num mundo com cada vez menos lugares ocupados pelo “bicho homem”. O que sempre aconteceu, e vem acontecendo mais e mais, são contra movimentos, contra tendências (tipo um anti-Newrônio? D’oh!), como o slow food e os hippies nos anos 60. O próprio consumo consciente, que poderia ser interpretado como uma contra tendência ao genérico da população, extremamente alienada, já deu uma guinada na sua carreira e é cada vez mais uma tendência, refletindo vários anseios da vida moderna e a indignação da sociedade contra os abusos feitos ao planeta. (Será que só na beira da extinção as coisas conseguem mudar?)

A estrutura do trabalho, do ensino, da compra, a maneira como a mídia manipula as notícias.. as estruturas sociais estão todas armadas para controlar nossa vida sem que possamos perceber, cabe a nós tentar usar ao máximo o livre-arbítrio que sobrou para tentar melhorar as coisas, e tentar atender não somente aos caprichos da sociedade, mas também aos nossos anseios pessoais e a nossas responsabilidade como viventes bípedes neste pequeno globo azulado.

Twitter @phbalboni @newronioespm