A arte em si é linda, maravilhosa, esplêndida, mas você provavelmente não pagaria mais do que alguns reais para assistir um espetáculo, principalmente se o que estamos falando não for um museu turístico ou alguma orquestra estrangeira. O balé pode não estar no topo dessa hierarquia artística, mas comparando o clássico ao moderno encontramos um patamar enorme entre ambos.

Não podemos falar em balé moderno sem citar a maior representante internacional da modalidade, Pina Bausch. Nascida na “Cidade das Lâminas”, ela é conhecida por manter a subjetividade de seus alunos em suas produções, produzindo os seus espetáculos a partir das experiências vividas e contadas por eles.

O instigante de um espetáculo de balé é que você não precisa estar se movimentando para viver a dança, a arte consiste em preexistir, transmitir e ressignificar. Fluindo com a música, teatro e artes visuais, as produções de Pina trouxeram uma nova concepção para os palcos, onde tudo acostumava a estar dentro de quadrados.

A alemã nunca parou de crescer, recebendo prêmios internacionais importantes como Kyoto e Goethe. Pina recebeu reconhecimento e chegou aos olhos do cineasta Win Wenders, que decidiu por fazer um documentário inspirado em sua poesia em movimento “PINA”.

O que era para ser uma colaboração entre os dois artistas se tornou impossível com a morte da bailarina em 2009. A partir desse momento, o documentário se tornou não só sobre, mas para Pina. As dimensões e amplitudes que Wenders explorou para o documentário são admiráveis, conseguindo manter o brilho da artista, sem deixar seus alunos de lado, que na verdade fizeram grande parte na produção.

PINA tem a sua importância de tirar a arte da artista apenas do âmbito da dança e trouxe o balé moderno para um reconhecimento mundial. O que na verdade era muito mais experimental em seus estúdios se tornou muito menos intimidador para a audiência. O mainstream nunca foi tão feliz de receber um presente tão significativo e profundo quanto esse.

Os movimentos de Pina inspiraram muitas produções atuais, como a série da Netflix dirigida por Brit Marling “The OA” e os seu ritual angelical, inspirado no espetáculo “The Rite of Spring”. Os clipes da artista pop Sia também se enquadram nessa mesma ressignificação. Ambos coreografados por Ryan Heffington, um dos tantos artistas que usam a Pina em seu repertório.

Sim, talvez o documentário seria muito mais interessante sob os olhos de Pina, talvez ele teria uma pegada muito mais próxima com a sua arte e menos sentimental. Mas nem tudo é perfeito nesse mundo, e uma iniciativa como a de Win Wenders foi e deve ser aclamada.

eu causei desgosto pro enem, mas to aqui.