Tramps é o último filme de Adam Leon, diretor do vencedor do SXSW de 2013, Gimme The Loot, e é um dos diversos filmes independentes a terem seus direitos de produção comprados pela Netflix.

Existem relatos de que Leon chorou ao ouvir que as negociações tinham sido fechadas (aparentemente, tais negociações acontecem com certa frequência sem o diretor do filme) e que seu filme teria sido vendido por U$2 milhões, mesmo sendo fruto de um investimento de U$104,000.

No entanto, mesmo gerando um lucro imediato significativo, negócios desse tipo com a Netflix não são o mar de flores, em que seu material atinge audiências diversas, que parece.

Os cineastas adotados pela gigante do streaming dão a ela as rédeas de seu trabalho, sem poder algum de decisão quanto ao posicionamento dele na página inicial do serviço, por exemplo. Além disso, eles não recebem informação alguma quanto a quantidade de pessoas que assistem seus trabalhos, dependendo somente da repercussão de críticas para monitorar seus desempenhos.

A Netflix tem um foco muito maior na quantidade, do que na profundidade do seu material; abrindo a primeira página, já vemos textos vermelhos com fontes enormes com o número de programas adicionados na última semana. A diversidade é tanta, que a busca por algo interessante, às vezes acaba antes de encontrá-lo.

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A nova forma de avaliação da plataforma dificulta ainda mais essa busca, uma vez que a divisão agora não é gradual, mas uma separação entre “amor” e “ódio”, que diminui a precisão das recomendações.

O início disso tudo não foi dos melhores. Quando Beasts of No Nation, primeiro filme original da Netflix, foi ao ar, nenhum cinema queria exibí-lo e o medo era de que a plataforma não conseguiria continuar com produções próprias.

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Agora, no Sundance de 2017, por exemplo, I don’t feel at home in  this world anymore foi o grande vencedor, entrando no patamar de filmes como Whiplash Beasts of the Southern Wild, o que deveria ser aproveitado pela plataforma, não? Pois não foi o que aconteceu. O filme criticamente aclamado, que poderia ser divulgado para aumentar a expectativa para a colaboração de Macon Blair com o diretor de Green Room, Jeremy Saulnier, foi lançado no meio da noite, como um episódio de Fuller House.

Agora que a popularidade da Netflix e sua capacidade de produzir conteúdo cresce cada vez mais, com parcerias com diretores do calibre de Martin Scorcese, Tramps será ainda mais enterrado por filmes maiores e não necessariamente melhores.

A preocupação com a percepção de seus filmes continua, mesmo com seu crescente sucesso. O anúncio de que o festival de Cannes apresentaria suas produções originais gerou diversas críticas e questionamentos sobre a validade do streaming no mundo do cinema tradicional; mas o que a Netflix realmente deveria ter em mente é que seus filmes não sirvam apenas para aumentar seu catálogo, mas que mostrem o quanto o streaming, como qualquer forma de entretenimento, pode enfatizar filmes de valor não comercial.

 

De grão em grão, tanto bate até que fura.