Um olhar que comunga com o sofrimento de Frida Kahlo, um desejo inadiável de afirmar a própria existência e uma maneira extremamente sensível de registrar cenas cotidianas. Juntando todas essas características, podemos remontar parte da história de Vivian Maier: uma figura feminina marcante responsável por um material fotográfico curioso e pouco conhecido.

Mesmo com pesquisas, análises e historiadores deslumbrados por suas particularidades, o sentido de sua obra se mantém obscuro, assim como um roteiro cinematográfico inacabado que é esquecido em alguma gaveta. E é nesse ponto que mora a graça desse conflituoso relato.

A artista pode ser considerada um dos maiores mistérios da fotografia do século vinte e os motivos são tão intrigantes quanto o seu extenso portfólio.

Descobertos por acidente em 2007, os velhos negativos e algumas imagens já finalizadas formavam uma coleção de fotos urbanas da década de sessenta. Todo esse tesouro estava escondido em uma (simples) casa de leilões e foi conquistado por menos de mil reais. O arrematador em questão era um corretor de imóveis chamado John Maloof, que na verdade desejava material para ilustrar uma pesquisa sobre Chicago, mas foi exatamente por meio dessa coincidência que tudo começou.

Chegando em casa, John reparou que aquelas fotos não eram bem o que ele estava procurando. Pessoas cruzando avenidas, viagens, expressões intensas e o registro da vida de gente simples: tudo isso compunha um caixote com rolos de filmes e um envolope com o nome de Vivian. Após um tempo e muita vontade de resolver todo aquele enigma, Maloof resolveu pesquisar sobre a vida daquela autora e teve uma baita surpresa.

Nascida em Nova York, a fotógrafa passou parte de sua infância na França e após retornar para o seu local de origem, trabalhou como babá por mais de quatro décadas.

Nesse período, Vivian exercitava o seu anseio por registrar momentos e fotografava indivíduos e as relações exploradas com o ambiente em que estavam, além de realizar inúmeros autorretratos (sim, se você acha que o selfie no espelho é uma novidade dos anos dois mil, você está muito enganado).

Depois de mais de cem mil negativos, o fascinante trabalho gerou outros questionamentos. Era nítido que aquelas imagens queriam ultrapassar o plano do impresso e passar a significar algo maior.

Maloof iniciou então um estudo sobre a personalidade de Vivian e percebeu que o processo dessa tarefa era muito mais relevante que um ponto de chegada em si.

Em um documentário produzido sobre a artista (assista aqui), as cenas apresentam os enigmas dessa história pouco a pouco. Vivan é representada como uma mulher reservada, porém bem humorada, curiosa, algumas vezes até cruel e o mais bonito: todas as suas motivações psicológicas acabavam em fotografia.

As informações sobre Vivian são escassas, mas pode-se dizer que a curiosidade também é um sentimento marcante no trabalho. A fotógrafa mostra ângulos e composições geniais em cenas que aparentemente não tinham nada para acabar em uma boa foto. Falando de seus autorretratos, é possível afirmar o jeito como ela se encaixa nas imagens, ora apresentando feições simpáticas, ora misteriosas.

O MIS (Museu da Imagem e do Som) promoverá, nesse mês e no próximo, talentos do universo fotográfico e Vivian Maier é um dos nomes que compõe a mostra. Que tal conferir de perto os registros dessa curiosa artista?

Museu da Imagem e do Som de São Paulo – MIS – fica localizado na Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo – SP

exposição / fotografia (21abr2015)
terças a sábado, das 12h às 21h; domingos e feriados, das 11h às 20h
Exposições 1º andar 
R$ 6 (inteira) R$ 3 (meia)

Nome de rei, força de vontade de plebeu.