Quando assistimos a um filme, prestamos atenção geralmente em algumas coisas bastante específicas: a fotografia bonita, uma história interessante e bem contada ou a trilha sonora, alguns um pouco mais entendedores costumam prestar atenção à atuação dos atores, o desencadeamento dos diálogos e até mesmo as implicações que o filme traz para além da tela.

Mas o que comprova a maestria de alguns diretores, aqueles que chamamos de “gênios”, aqueles que realmente compreendem a fundo o funcionamento do cinema e sabem explorar toda a sua potencialidade para contar uma história, é dificilmente percebido.

O canal do Youtube Every Frame a Picture, de Tony Zhou, apresenta pequenas amostras de como a magia do cinema está muito além do que percebemos visualmente, que as sutilezas que os entendidos chamam de raccord ou mise-en-scene, têm papel fundamental na consolidação de um grande filme (e de seu diretor também).

Drive (2011) foi um grande filme, que desencadeou uma verdadeira adoração pelo ator Ryan Gosling e pela direção idiossincrática e muito bonita de Nicolas Winding Refn. Você deve se lembrar da fotografia bonita, da trilha sonora chill out e sexy e também da trama, pesada e doce ao mesmo tempo.

Zhou nos mostra, entretanto, que a maestria do filme vai muito além desses aspectos: algumas cenas do filme contam quase a história inteira por si só. É como se o filme fosse permeado por pequenos takes que resumem ele mesmo.

Estranho? Talvez. Complexo? Talvez. Fantástico? Com certeza.

Ou mesmo, porque um grande diretor escolhe filmar as coisas dessa maneira ou de outra?

Zhou dá uma ideia de como o grande David Fincher (que você já deve conhecer) constrói suas cenas, passando por sua aversão à câmera na mão (aquela que muita gente tenta imitar hoje em dia, tremida e parecendo “caseira”) e seu cuidado acima da média para inserir close-ups.

Outro exemplo interessante e bastante relevante hoje em dia é a análise de Zhou acerca do silêncio nos filmes. Muito da produção hollywoodiana de hoje usa o silêncio apenas como um meio para intensificar a dramaticidade, quase como uma fórmula mágica.

O valor do silêncio é lembrado comparando-se alguns filmes atuais com obras de um dos grandes mestres do silêncio oportuno (aquele que ajuda na construção do drama de maneira rica e pertinente), Martin Scorsese.

Pois bem, de agora em diante fica aí um bom canal para ajudar a todos a perderem o olhar ingênuo quando forem ao cinema.

Minha barba. Minha vida.