Há tempos que animações já não são entretenimento exclusivamente infantil e que os pais não são meros acompanhantes no cinema.  Há uma crescente onda de amadurecimento de filmes que antes eram voltados a crianças e agora possuem uma convergência com um conteúdo adulto, transcendendo a idade do expectador.

Parte desse movimento começou em 2001 quando o Oscar decidiu incorporar em sua premiação uma categoria dedicada exclusivamente às animações, que antes eram pouco presentes entre os indicados. Isso aconteceu como um incentivo a bilheteria desses filmes e consequentemente ao aumento do número de produções.

Desde então essa categoria foi dominada pela Pixar, que saiu com o filme vencedor em 8 das 12 vezes que foi indicada, e que junto com a Disney, influenciou o rumo que esse gênero vem tomando: filmes que são apropriados para todas as idades e são intencionalmente produzidos para todas elas.

Entre piadas que fazem os mais novos gargalhar, e referências que fazem os mais velhos brilharem os olhos, a liberdade criativa dos filmes de animação permite apresentar situações que englobam tanto a simplicidade do mundo infantil, quanto a riqueza simbólica do mundo dos adultos. Criatividade essa, que tira os filmes de animação de rótulos comuns, como comédia, drama, ação, fantasia, pois podem conter todos eles em uma única narrativa.

Entre antecessores como Wall-e (2008) e Up – Altas Aventuras (2009), o epicentro desse movimento foi o filme Divertidamente (2015), aclamado pela crítica (ganhou um Oscar e um Golden Globe) e pelo público (ganhou um Kids Choice e é um dos filmes melhor avaliados no IMDB), conseguiu enquadrar questões psicológicas sobre desejos, sonhos, frustrações, e auto-conhecimento, de uma forma que as crianças podem se relacionar, como o amigo imaginário Big Bong, a Terra da Amizade e da Família e os personagens que representam cada emoção, mesmo que não entendam completamente a simbologia do contexto.

O recente Zootopia (2016), trata sobre assuntos como preconceito e intolerância através de animais falantes, que ao início se mostram dicotômicos, mas que ao crescer do filme mostram sua complexidade, fazendo jus ao que a trama propõe. Com uma mistura de piadas inteligentes, referências a cultura pop e uma dose de fofura, o filme cumpre seu papel de trazer “a moral da história” para algo muito mais realista e próximo do contexto atual.

E o tão esperado Procurando Dory (2016), que chegará aos cinemas em Junho deste ano, já mostra que será bem sucedido na tarefa de levar os crescidos ao cinema por si só, grande parte pela nostalgia do público que cresceu escurando as frases em baleiês desde que Procurando Nemo (2003) foi lançado, e que espera que o roteiro desse próximo filme os deixe tão encantados agora crescidos, quanto foram quando eram pequenos.

Talvez o segredo desses filmes seja isso mesmo, o encantamento. Criar histórias que fascinem todas as idades, e cativem sua audiência, equilibrando assuntos complexos em simples diálogos. E no final, cada um tem algo a se identificar nessa trama e ao fazer parte dela um peixe-palhaço, um robô recolhedor de lixo, uma casa cheia de balões e emoções na sua cabeça se tornam imagens, nomes e sorrisos.

Texto por Rebeca Cyrineu

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