Poesia é música? Música é poesia? Certas palavras aproximam estes dois belos termos: cadência, tema, frase, motivo, entonação, timbre, metro e ritmo. Não podemos esquecer que a poesia lírica surgiu na Grécia Antiga. Entre os gregos, a poesia era composta para ser cantada ou acompanhada por música (lira).

Com a invenção da imprensa, no Renascimento (século XV), a poesia tornou-se palavra escrita para ser lida, abandonando seu antigo acompanhamento musical.

Além disso, diversas formas específicas, que hoje se estudam e se caracterizam como literariamente autônomas, definiam-se em sua origem como composições vinculadas à música: as baladas, as barcarolas, as cantigas trovadorescas em seus diferentes tipos, os hinos, as odes, os madrigais, as cantatas.

Letra-Texto? Melodia-Música? União poesia-palavra na poesia-música.

Poeta: Construtor de textos sinfônicos, imagens e sons dialogando entre si; ser seduzido pela possibilidade de decodificar, através do olhar, o real, codificando-o e emoldurando-o em palavras-cantadas que vão sendo desenhadas na tela arquetípica do papel-voz.

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Quando se fala em Arnaldo Antunes, a maioria das pessoas o relaciona à música, ao grupo de rock Titãs, com o qual gravou sete álbuns, lançados pela WEA entre 1982 e 1992. Agora segue carreira solo. Mas poucos sabem que, já no começo dos anos 80, Arnaldo criava poemas visuais e que possui vários livros de poesia publicados. Além disso, é artista plástico multi-mídia, podendo até mesmo ser considerado um teórico da literatura e da comunicação. Basta folhear o seu livro “40 Escritos” publicado pela Editora Iluminuras em 2000 e lá encontraremos uma seleção de textos esparsos publicados em jornais, revistas, catálogos de exposições, prefácios, releases, atestando a competência de linguagem deste múltiplo artista que transita com segurança em diversas mídias.

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Em 2014 Arnaldo Antunes lançou “Outros 40” ampliando seu repertório ensaístico, ao falar de música, poesia, artes visuais, literatura, produtos culturais e comportamento. O que mais chama a atenção nestes escritos é a própria linguagem do autor, seu sotaque pessoal que registra a sua modernidade, sem perder de vista o caráter crítico que os temas abordados sugerem. É o que podemos observar no instigante texto publicado originalmente no Caderno Cotidiano da Folha de São Paulo, em junho de 1995:

“O amor, sem palavras. Ou. A palavra amor, sem amor. Sendo amor, ou. A palavra ou. Sem substituir nem ser substituída por. Si, a palavra si, sem ser de si gnada ou gnificada por. O amor. Entre si e o que se. Chama amor, como se. Amasse (esse pedaço de papel escrito amor).”

Arnaldo Antunes acaba de lançar pela Editora Companhia das Letras seu novo livro de poemas “Agora Aqui Ninguém Precisa de Si” onde presenciamos a perfeita harmonia e vinculação poesia-música-imagem, rompendo a barreira que separa as artes.

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João Carlos Gonçalves (Joca)

Doutor em Linguagem e Educação pela USP; Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Professor de Fundamentos da Comunicação e Semiótica Aplicada na ESPM.

Os colunistas do Newronio são professores, alunos, profissionais do mercado ou qualquer um que tenha algo interessante para contar.